02/08/2021 às 18h00min - Atualizada em 02/08/2021 às 18h00min

Juros fecham em alta com mercado já à espera de Copom

Após terem passado a maior parte da segunda-feira em queda firme, os juros futuros reverteram o movimento no fim da sessão desta segunda-feira (2) e fecharam em alta, conforme agentes do mercado se preparam para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), na quarta. Ruídos fiscais permanecem no radar, com as discussões sobre o tamanho do Bolsa Família, o risco de furo ao teto de gastos e a perspectiva de despesas extraordinárias à frente na pauta dos investidores.

Finalizado o pregão regular, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 passava de 6,32% no ajuste anterior para 6,325%; a do DI para janeiro de 2023 avançava de 7,81% para 7,865%; a do contrato para janeiro de 2025 subia de 8,70% para 8,75% e a do DI para janeiro de 2027 tinha alta de 9,04% para 9,08%.

Os juros encerraram a sessão exibindo avanços leves ao longo de toda a curva a termo, conforme agentes financeiros promoviam mudanças em seus portfólios à espera de uma postura “hawkish” (inclinação à retirada de estímulos monetários) do Copom daqui a dois dias. “O mercado continuou se ajustando para a decisão de Selic e o dólar também deu uma piorada ao longo do dia, isso explica a dinâmica do movimento”, avalia um operador da mesa de renda fixa de um grande banco.

Os preços de mercado seguem indicando a perspectiva majoritária de que o BC acelere o passo na alta de juros e promova uma elevação de 1 ponto percentual da Selic, de 4,25% para 5,25%, de acordo com a precificação extraída da curva de juros. Segundo as opções digitais de Copom, a possibilidade é de 81% para uma alta de tal magnitude e de 10% para um aumento de 0,75 ponto, mesma probabilidade de um aperto de 1,25 ponto.

Nesse sentido, cabe destacar que o Boletim Focus divulgado hoje voltou a mostrar um salto no ponto médio das projeções de economistas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2021, de 6,56% para 6,79%, enquanto a mediana para o IPCA de 2022 também exibiu viés de alta, de 3,80% para 3,81%. Vale lembrar que a deterioração das expectativas de inflação para 2022 foi apontada como uma das razões para justificar um movimento de aceleração do ritmo de alta da taxa Selic para 1 ponto.

Nesta segunda, o UBS BB se juntou ao time dos que projetam uma elevação dessa magnitude no próximo Copom. A instituição, agora, prevê que o Copom terá de promover três altas seguidas de 1 ponto e uma de 0,75 ponto, aumentando, assim, a sua estimativa de juro básico ao fim de 2021 de 6,5% para 8%.

De acordo com o banco, a atividade é o principal argumento para que a Selic seja elevada acima do nível neutro, dado que a estimativa do BC para crescimento do PIB em 2021 é bem menor do que a do Focus e da própria instituição e provavelmente não se confirmará, pois tem a ver com possível revisão em fatores sazonais que reduziriam o crescimento do primeiro trimestre para 0,6% na comparação trimestral diante dos 1,2% já divulgados. Sem essa revisão, o BC provavelmente projetaria crescimento do PIB próximo a 5,5%, que se traduziria em projeção de inflação em torno de 0,5% maior para 2022, diz o UBS BB.

Outra razão que justifica essa revisão de Selic é o ligeiro aumento das projeções para o IPCA de 2022, a criação muito maior do que o esperado de vagas de emprego, a boa condução da vacinação e a expectativa de alcance da imunidade de rebanho no fim de agosto, diz o UBS BB.

Um profissional de uma gestora, que prefere não se identificar, nota ainda que o “estopim da zerada” na queda dos DIs foi o dado mensal da balança comercial, que frustrou a mediana das projeções do mercado. A balança registrou superávit de US$ 7,395 bilhões em julho, aumento de 1,7% em relação ao mesmo período do ano anterior, pela média diária. “Logo após a divulgação, o câmbio começou a piorar e o mercado de juros foi junto, adicionando a isso a expectativa com o Copom”, avalia.

Mais cedo, as taxas continuavam a devolver o prêmio de risco que havia sido incorporado na última sexta (30) por investidores receosos com o tamanho do Bolsa Família, o volume de R$ 90 bilhões de precatórios a serem pagos em 2022 e o risco à manutenção do teto de gastos.

Para o responsável pela mesa de câmbio e juros da CM Capital Markets, Jefferson Lima, a apreensão do mercado em relação à questão fiscal permanece no radar e deve continuar fazendo preços nos ativos locais nos próximos dias. “Enquanto não houver algo mais concreto sobre como estará a trajetória das contas públicas no médio prazo ou o governo não achar uma folga no teto para financiar o Bolsa Família, todo e qualquer alívio nos juros tenderá a ser pontual”, avalia.

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