30/07/2021 às 14h00min - Atualizada em 30/07/2021 às 14h00min

Dólar e juros futuros operam em alta, com riscos fiscais no radar

O risco fiscal voltou ao centro das atenções dos agentes financeiros nesta sexta-feira, conforme as discussões acerca do novo formato do Bolsa Família ganham tração. O resultado é um movimento de forte alta do dólar e estresse dos juros futuros, mais pronunciado nas porções intermediária e longa da curva.

Por volta de 13h50, o dólar subia 1,49% no mercado à vista e era negociado a R$ 5,1549, após ter ido a R$ 5,1564 na máxima do dia. No mercado de juros futuros, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 passava de 6,20% no ajuste anterior para 6,245%; a do DI para janeiro de 2023 variava de 7,56% para 7,70%; a do contrato para janeiro de 2025 tinha avanços de 8,36% para 8,57% e a do DI para janeiro de 2027 subia de 8,72% para 8,92%.

Por mais que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tenha dito hoje que o teto de gastos não será ultrapassado pelo novo Bolsa Família, que deve exigir de R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões para que o benefício alcance entre R$ 250 e R$ 300, agentes financeiros relatam tensão no mercado com falas dele sobre possíveis despesas extraordinárias à frente.

Em evento no Rio de Janeiro, Guedes apontou para a possibilidade de despesas extraordinárias à frente, o que acelerou o movimento de depreciação do real observado desde o início do dia. “A conversa de furar o teto pegou em cheio o humor do mercado. O Guedes acabou furando o balão de ensaio ao apontar para a chance de mais gastos extraordinários”, diz um profissional do mercado.

“A declaração contribuiu para elevar o estresse, em um dia em que o mercado global já não é positivo. O grande temor no Brasil é se aventar um aumento de gasto extraordinário, pois ele pode muito bem virar permanente. Aumenta o receio quando o ministro da Economia fala dessa possibilidade”, diz Carlos Cardoso, gestor e fundador da BRDR Asset.

Ao Valor, Guedes reforçou a defesa da âncora fiscal. “O Orçamento está preparado para mandar um Bolsa Família mais robusto. Não está no plano furar o teto para fazer o Bolsa Família”, afirmou ele.

Hoje, o jornal “O Estado de S. Paulo” publicou que a ala política do governo estaria defendendo tirar o novo programa social do teto. Além de Guedes, o Valor falou com outras quatro fontes, das quais três negaram que isso esteja em discussão e uma admitiu que há pessoas defendendo isso dentro do governo.

Além dos riscos fiscais em alta, fatores técnicos também apontam para um cenário mais desafiador para a moeda brasileira. “A posição técnica estava muito ruim porque tanto os fundos locais quanto o investidor estrangeiro baixaram muito a posição comprada [em dólar contra o real]. Pode ser que eles estejam voltando a comprar dólar para se proteger. Temos que ver que o fluxo para a bolsa foi negativo recentemente”, afirma um gestor que prefere não se identificar. Além disso, ele nota que o dólar furou a média móvel de 50 dias (R$ 5,13), o que fez a alta da moeda acelerar durante a manhã.

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