O tombo do minério de ferro negociado na China derruba as ações da Vale, levando a bolsa brasileira junto. O Ibovespa exibe perdas mais aceleradas que o observado em Nova York, caindo ao redor de 1,5% e sendo negociado já abaixo dos 124 mil pontos. O movimento dispara uma realização de lucros generalizada neste último pregão do mês, com os investidores também atentos aos riscos fiscais, o que penaliza os demais ativos domésticos.
Às 13h, o Ibovespa cedia 1,59%, aos 123.679 pontos, não muito distante da pontuação mínima do dia, aos 123.533 pontos. O índice à vista ainda não foi negociado em alta hoje, segurando-se na estabilidade, na máxima do dia. Em Nova York, os índices Dow Jones e S&P 500 perdiam 0,38% e 0,58%. O volume financeiro na bolsa somava R$ 11 bilhões, projetando giro de mais de R$ 30 bilhões até o fim do dia.
Desse total, Vale ON movimentava R$ 2 bilhões, sendo o papel mais negociado. Segundo operadores, as instituições financeiras cujo perfil de cliente é majoritariamente estrangeiro atuam fortemente na ponta vendedora do papel, que caía 3,90%, ainda no horário acima, figurando entre os destaques de maiores baixas, reagindo à queda de quase 5% do minério de ferro em Dalian e de mais de 7% em Qingdao.
“O que impactou mesmo hoje foi o minério de ferro, contaminando fortemente as ações da Vale e, consequentemente, puxando a bolsa para baixo”, resume o chefe de renda variável da Renova Invest, Rodrigo Friedrich. Ele acrescenta que o desempenho da mineradora e das commodities metálicas também pesa em CSN ON (-2,95%) e Brasdepar PN (-3,15%).
O chefe da mesa de renda variável e derivativos do BTG Pactual, Jerson Zanlorenzi, lembra que as recentes intervenções regulatórias promovidas pelo governo chinês pesaram nos ativos emergentes em geral, deixando os investidores mais cautelosos. “A preocupação é com o crescimento econômico global e a dúvida é se essas intervenções poderiam frear uma das duas locomotivas do mundo”, diz, referindo-se à China e aos Estados Unidos.
Internamente, a cena local segue no radar. “O que fica em xeque é a questão fiscal”, emenda Zanlorenzi, citando o noticiário sobre mudar o “teto dos gastos” para ampliar o valor do Bolsa Família para R$ 300. Para o analista da Necton Corretora, Rodrigo Barreto, o noticiário de Brasília sobre o andamento das reformas e os bastidores pré-campanha eleitoral influenciam o apetite do investidor, estrangeiro principalmente.
“O [investidor] estrangeiro não opera ruídos políticos e o que está atraindo ou retirando fluxo é a questão fiscal”, observa o analista, referindo-se às manobras populistas do presidente Jair Bolsonaro. Dados atualizados da B3 até a última quarta-feira (dia 28) mostram que o fluxo de capital externo neste mês está negativo em R$ 7 bilhões, caminhando para fechar essa conta no vermelho pela primeira vez desde março.
Ainda entre as ações, o ranking de maiores baixas era liderado por Localiza ON (-5,25%), reagindo em queda ao salto de 398% no lucro trimestral, em base anual, a R$ 447,9 milhões. Para a equipe de análise da Ativa Investimentos, os números refletem o bom crescimento da receita em todas as linhas de negócios da empresa. “De negativo, destacam-se os problemas de fornecimento junto às montadoras, o que impactou o volume de vendas em seminovos e resultou em redução de frota operacional no período”, comenta o gerente da corretora Pedro Serra, em relatório.
Na outra ponta, os ganhos são liderados por Vivo ON (+1,90%) e Pão de Açúcar ON (+1,40%), recuperando-se das perdas recentes.