Após mais de duas horas de atraso e em cerimônia fechada aos meios de comunicação, o presidente do Peru, Pedro Castillo, acompanhou na quinta-feira à noite a posse dos integrantes de seu novo governo. O grupo será liderado pelo presidente do Conselho de Ministros (primeiro-ministro), Guido Bellido, nomeado horas antes.
Duas pastas ainda estão sem titulares: a de Justiça e Direitos Humanos e a de Economia e Finanças. Sobre a segunda, fontes do partido de Castillo, Peru Livre, indicaram que, na manhã de sexta-feira, seus assessores ainda tentavam convencer Pedro Francke, ex-economista do Banco Mundial, a aceitar o posto-chave.
Francke é tido como peça fundamental para acalmar os agentes econômicos peruanos, receosos de que Castillo adotará políticas estatizantes e contrárias ao livre-mercado – como acusou, durante a campanha eleitoral, a candidata derrotada Keiko Fujimori.
As mesmas fontes, citadas pelo jornal de Lima “La República”, informaram que Francke estava a ponto de aceitar o convite, mas desistiu em razão da escolha de Bellido para o Conselho de Ministros. A nomeação demonstraria a ascendência que o líder do Peru Livre, Vladimir Cerrón – representante da linha-dura do partido socialista –, terá sobre o governo.
Francke realizou várias reuniões com investidores, empresas e outros setores importantes da economia peruana desde que Castillo surgiu como provável vencedor do segundo turno da eleição do país.
No discurso de posse, na quarta-feira, Castillo se comprometeu a não nacionalizar setores da economia e a respeitar a propriedade privada. No entanto, a proposta de convocar uma Assembleia Constituinte para modificar o modelo econômico neoliberal peruano, estabelecido na Carta Magna de 1993, gerou preocupação entre os investidores.
Entre os demais ministros nomeados, o que mais chama atenção internacional é o de Relações Exteriores, Héctor Bejar, doutor em Ciências Sociais com especialização em Sociologia pela Universidad Nacional Mayor de San Marcos – berço da guerrilha maoísta Sendero Luminoso.
Bejar, de 85 anos, recebeu treinamento de guerrilha em Cuba, em 1962, onde conheceu Che Guevara. Segundo o diário especializado em economia “Gestión”, ele fez parte do Movimento de Esquerda Revolucionária junto com Javier Heraud. Depois, voltou para Havana, onde preparou a estratégia do Exército de Libertação Nacional para o Peru. Em 1965, liderou o Exército de Libertação Nacional em Ayacucho para posteriormente ser detido e preso por sedição em 1966.
O novo chanceler colaborou com o governo do nacionalista Velasco Alvarado, apoiando o Sistema Nacional de Apoio à Mobilização Social e a reforma agrária peruana, ao lado de movimentos de juventude, cooperativos e rurais.
Nesta sexta-feira, os ativos peruanos despencam e a cotação do dólar em relação à moeda local disparou. Um EFT que acompanha ações do país caía mais de 5% e os preços dos títulos estrangeiros do país com vencimento em 2031 recuavam para a menor taxa em sete semanas, informou a agência Bloomberg.
O dólar subia mais de 2% pela manhã, superando a barreira psicológica de quatro sóis peruanos.