05/08/2022 às 11h31min - Atualizada em 05/08/2022 às 11h31min

Pecuária de leite: Cuidados no período de transição das vacas

Fase mais importante do ciclo produtivo, o período de transição exige gestão coordenada para atender a demanda nutricional dos animais.

O período de transição de vacas leiteiras é a etapa mais importante e crítica para os animais. Essa fase compreende as três semanas antes e após o parto, e é nesse momento que ocorrem diversas mudanças no metabolismo, além do aumento da demanda por nutrientes para a produção de colostro e leite.

“As vacas passam por adaptações homeoréticas, incluindo a mobilização de reservas corporais, que preparam os animais para a lactogênese. O desempenho produtivo e reprodutivo das vacas de leite está diretamente ligado ao correto manejo do período de transição”, esclarece o médico veterinário e coordenador técnico de Bovinos de Leite da MCassab Nutrição e Saúde Animal, Rafael Barletta.

O especialista explica que a deficiência de hidratação impacta o status metabólico dos animais. “As vacas perdem líquidos e eletrólitos no momento do parto, e restabelecer o equilíbrio nutricional é fundamental para a manutenção da saúde dos animais”, destaca Barletta. “É importante que logo após o parto os animais façam a ingestão de água e eletrólitos”, acrescenta.

Segundo ele, os repositores eletrolíticos contendo precursores de glicose e cálcio são uma alternativa para repor nutrientes em períodos críticos, como é o caso do dia do parto, e devem ser utilizados para que possibilitem aos animais maximizar o desempenho e restabelecer a saúde.

Os cuidados com a nutrição dos animais nesse período também são um fator apontado como fundamental pelo coordenador. “O manejo nutricional é de extrema importância para esta fase. A implementação de dietas, visando à adaptação ruminal, com formulações adequadas no pré-parto e no pós-parto, são essenciais para o desempenho das vacas durante a lactação”.

Rafael destaca ainda que as estratégias de formulação visam estabelecer quantidades adequadas de carboidratos, proteínas, lipídeos, minerais e vitaminas, bem como, aditivos pertinentes que objetivam potencializar a adaptação da microbiota do rúmen, a qual será responsável pela fermentação dos alimentos e pela produção dos principais ácidos graxos voláteis, fontes majoritárias de energia utilizada pelos ruminantes.

“Aliada à adaptação ruminal, o uso de dietas aniônicas ou acidogênicas no pré-parto é uma prática que deve ser adotada, devido ao respaldo de dados científicos que temos na literatura”, justifica o veterinário. “Esses tipos de dietas têm como principal função diminuir os casos de hipocalcemia clínica e subclínica e restabelecer de forma mais rápida o equilíbrio dos níveis de cálcio nos animais”.

Rafael explica que isso tem efeito direto na diminuição da incidência de outras doenças, como retenção de placenta, metrite, cetose, deslocamento de abomaso e acidose ruminal, que podem aumentar os descartes no rebanho, bem como levar a uma diminuição do desempenho produtivo ao longo da lactação. "É sempre importante destacar que não podemos deixar de lado o manejo dos animais, além de monitorar o agrupamento das vacas em cada fase bem como conforto animal/instalações”, completa.

Em relação à gestão do rebanho, Barletta alerta que é preciso atenção dos produtores para evitar a ocorrência de doenças durante a transição. Segundo ele, o ponto mais importante é o correto monitoramento dos animais, que deve iniciar com a aferição do consumo de matéria seca em cada uma das fases.

“Também temos que implementar as aferições de PH urinário a ser realizado uma vez por semana, no pré-parto, para verificarmos a assertividade do DCAD das nossas dietas e tomar atitude antes da vaca parir, corrigindo possíveis erros de manejo”, aponta e acrescenta que o monitoramento de doenças, como cetose, hipocalcemia, retenção de placenta e metrite, também deve ser instituído na fazenda, pois está diretamente relacionado com o manejo e a nutrição dos animais e auxiliará nas tomadas de decisões.

O especialista lembra que existem outros fatores que contribuem para que esse processo ocorra de forma positiva, tanto para os produtores quanto para os animais. “O manejo e o bem-estar animal estão cada vez mais presentes quando se fala em uma pecuária profissional, e esse é um ponto fundamental e de muita importância para essa fase do ciclo produtivo. O investimento em bem-estar nessa fase traz muito retorno ao produtor e diminui o descarte involuntário dentro da fazenda”, destaca.

Neste sentido, ele orienta que a separação dos animais em lotes (multíparas x primíparas) é o primeiro passo a ser dado, pois diminui a competitividade e auxilia de forma direta o consumo de matéria seca, que deve ser constantemente monitorado. “Devemos também ter muita atenção com estresse térmico, pois este afeta o consumo e consequentemente a produção de leite dos animais após o parto. Investir em estratégias de resfriamento das vacas terá grande impacto na saúde e produção do rebanho”, pontua.

Por fim, segundo Barletta, também é necessário dar muita atenção à limpeza de camas e bebedouros, fornecendo sempre as melhores condições, para que as vacas possam expressar ao máximo a sua genética. “Todas essas ações conjuntas ajudarão a restabelecer o equilíbrio nutricional para o sucesso de todo ciclo produtivo”, arremata o médico veterinário.

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