02/08/2022 às 11h30min - Atualizada em 02/08/2022 às 11h30min

Arroba do boi gordo decola em agosto

Amigos, há uns 30 dias não escrevo algo semelhante em nossa coluna “De Olho no Mercado”, então, merece até preparação: “As escalas das indústrias frigoríficas brasileiras estão encurtando”. O motivo é uma oferta cada vez mais reduzida de animais para abate (ficará mais evidente neste mês de agosto), somada ao elemento de convicção que o mercado importador seguirá firme no segundo semestre, o que já dá características menos conservadoras nas aquisições de matéria-prima pelo setor fabril.

De modo geral, a última semana encerrou com recuo generalizado de dois dias nas escalas dos principais estados produtores, em alguns casos três dias (Goiás). A média nacional recuou para 10 dias de atividade garantida, o que mostra ainda algum conforto na matança industrial, mas o fôlego ficará cada vez menor.

Durante o mês de julho, em especial na segunda e terceira semanas, tivemos alongamento destas escalas. Foi o argumento para pressões sobre o valor praticado pela arroba do boi gordo. E, de fato, ocorreram. Nada demais… Pois, apesar deste cenário, o mês de julho, se considerarmos a média, contou até com ganhos (na média geral) para o preço praticado pela arroba, quase R$7. Os motivos foram explicados no primeiro parágrafo.

Então, chegou agosto e já começou com uma segunda-feira para mostrar que será de muito trabalho, mas não é ruim… Quem se prepara, semeia e acompanha, sempre colhe melhor.

E veja só…

No primeiro dia do oitavo mês do ano a Conab – Companhia Nacional de Abastecimento (normalmente quando escrevo sobre a estatal brasileira é para criticar levantamento de safra, mas não é o caso) – divulgou uma pesquisa que mostra a projeção da cadeia produtiva da carne bovina brasileira alcançar a produção de 8 milhões 115 mil toneladas (equivalente à carcaça) do produto em 2022. O volume mais baixo em 20 anos.

E, no meu entendimento, tudo bem!

Contudo, a Conab justifica que parte da queda está relacionada ao movimento de retenção de fêmeas no elo da produção, para elevar a criação de bezerros e, posteriormente, aproveitar os preços melhores pagos pelos bois nos últimos anos. Dessa forma, menos vacas vão para o abate, o que sustenta as cotações. Olha, pode até ter um pouco disso, mas não é bem isso.

Convido você leitor, para uma viagem no tempo e retroceder comigo uns 17 anos. Se olharmos para o rebanho brasileiro, ele está mesmo sendo melhorado e reduzido há décadas. O pecuarista no campo precisou se reinventar depois das “pancadas”, em especial, aquelas dos anos de 2005 e 2006.

Lembro que em 2005 as cinco grandes indústrias da época foram processadas e condenadas no CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) por cartel em 2007. Especificamente em 2006 tivemos o último caso de aftosa no Brasil. Enfim, os cenários corroeram a pecuária brasileira que precisou se reinventar e, com isso, arrendamentos foram feitos para agricultura, cana e floresta e o próprio produtor começou a diversificar. É fundamental esclarecer que as relações dos elos da cadeia produtiva tiveram uma grande evolução desde os episódios citados.

A cadeia produtiva se modernizou e as produtividades no campo e na indústria subiram muito, mas a redução no rebanho e volume de produção de carne bovina seguiu. É fato.

Aponto como fundamentos da redução os fatos ocorridos entre 2005 e 2007; a descapitalização do pecuarista no começo da década de 2000; a expansão da agricultura e a queda no poder de compra da população.

Em nossa coluna, que será lida por industriais, produtores rurais (como meu amigo Alessandro Coelho de MS), profissionais que atuam na área, entre outros, posso ser claro! A carne bovina comercializada internamente no país ainda é barata se considerarmos os preços internacionais, mas nos últimos 12 ou 13 anos tivemos aumento do endividamento da população somado ao poder de compra em processo de redução. Abertamente uma frase como a escrita pode ser motivo de revolta, mas ela tem contexto.

Na última vez que estive nos Estados Unidos fiz questão de entrar nos mercados para comprar carnes. Por lá, além da quantidade vendida ser menor, os preços são altos para os americanos. E isso é um fato. Desenvolvi estes últimos parágrafos  (sem desrespeitar o diagnóstico da Conab) para defender minha postura que o motivo para a redução na produção de carne bovina no Brasil é muito mais profundo que reter fêmeas por três ou quatro anos.

Para encerrar o artigo, vejo um cenário cada vez mais positivo na economia brasileira. O fato é que a equipe do ministro Paulo Guedes agiu em um “time” muito ajustado com os juros, ele conseguiu ter a percepção dos problemas que viriam, sofreu e suportou muitas pressões e tal fato traz melhoras para a população.

O ânimo já é muito melhor e o brasileiro comemora comendo carne vermelha. Em breve, teremos o Dia dos Pais (14/8) e a data, nem precisava, mas vou escrever, é comemorada em volta de uma churrasqueira. Para a semana é esperada alta na arroba. Os preços vão subir.

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