O mercado da pecuária bovina de corte segue movimentado com confirmações de fundamentos, elevação nas exportações, na oferta de animais para abate e até de escala. Entretanto, o preço pago pela arroba tem conseguido manter estabilidade, fator que significa maturidade nas relações comerciais entre os elos e boa observação aos fundamentos que tangem as operações.
Vou começar o artigo com destaque para as exportações, pois entendo haver, neste tema, o maior volume de informações e argumentos para debate. A retomada de um ritmo mais expressivo para os embarques de carnes equilibrou o mercado de comercialização de bois prontos para o abate no Brasil. Este é o principal fator aqui neste começo de mês de maio.
O que havia com o importador?
Falar do nosso principal destino é sempre uma especulação baseada nos números divulgados por eles. Então, é possível afirmar que houve uma forte redução nas compras de carnes e miúdos pela China em Abril de 2022, uma queda de 35% no volume se comparado ao mesmo período do último ano, de acordo com a Administração Geral de Alfândegas da China.
Quais motivos?
O primeiro motivo que destaco (argumento preferido da imprensa oficial chinesa) é a recuperação forte, talvez quase completa (quem vai ter certeza??), do rebanho suíno e da produção deste tipo de carne no país. Seguramente, parte desta afirmação é viável e possível.
O segundo, também muito apreciado pela própria China, é a busca por produção internalizada de proteínas a fim de evitar a contaminação de sua própria população com o Covid-19, novas ondas da pandemia e prejuízos financeiros e humanos em seu território. No meu entendimento, o governo da China pode até querer tal coisa, mas seria inviável produzir tanta carne.
Em terceiro lugar, mas muito mais próximo do tangível, o Governo da China, de fato, resolveu lidar com os surtos de Covid-19 de maneira mais radical, declarando lockdown generalizado em diversas cidades e metrópoles, como Xangai. E Xangai é o cerne do sistema nervoso logístico chinês.
Com a logística parada ou cambaleando internamente, a China começa a declarar suspensões temporárias aos seus fornecedores de carnes. O principal ou único argumento, quando há, é evitar a entrada do Covid-19.
Basicamente, o que quero dizer é que a justaposição dos fatos (emprestando o tema de análise da língua portuguesa) mostra um aproveitamento da decisão de lockdown chinês, calhando com a intenção de criar barreiras comerciais (frágeis posso afirmar) em uma tentativa de repactuação de negócios e segurar os preços, mesmo no nosso caso, da carne bovina.
As exportações brasileiras de carne bovina ganham força com o mês de maio, os volumes já são mais expressivos, elemento suficiente para dar manutenção no valor da arroba do boi gordo. Somado ao fator citado, as taxas de juros mais altas nos Estados Unidos seguem precificando o mercado, o dólar sobe no mundo todo, (Dólar mais alto dá maior competitividade aos produtos exportados pelo Brasil) e os papéis do Tesouro norte-americano já sobem mais de 3%. O que estou dizendo, em poucas palavras, é que vejo uma taxa de juros acelerando ainda mais no Brasil (viés de alta mesmo) e um dólar subindo também, pelo comportamento do mercado financeiro internacional e, claro, a corrida presidencial por aqui.
Para fechar o artigo desta semana, afirmo que a oferta de bois no Brasil segue intensa, com o pecuarista precavendo-se da redução de pastagens com a seca do inverno que logo chega. As escalas frigoríficas estão folgadas, movimento natural. O preço da arroba, no curto prazo tende a ficar estável, com alguns bons negócios pelo país, a depender da boiada ofertada.