Sob o risco de desancoragem das expectativas inflacionárias para o ano que vem, agentes de mercado seguiram atribuindo probabilidade majoritária de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central terá de apressar o ritmo de alta da taxa Selic para 1 ponto percentual em sua próxima reunião, daqui a pouco mais de uma semana.
Com isso, os juros futuros de curto prazo voltaram a registrar avanços firmes nesta segunda-feira (26), depois de o Boletim Focus do BC mostrar elevação nas projeções de economistas para a inflação de 2022.
Finalizado o pregão regular, às 16h, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subiu de 6,05% no ajuste anterior para 6,14%; a do DI para janeiro de 2023 avançou de 7,47% para 7,56%; a do contrato para janeiro de 2025 variou de 8,34% para 8,35% e a do DI para janeiro de 2027 anotou baixa de 8,73% para 8,71%.
Em suas comunicações mais recentes, tanto no comunicado como na ata referentes à reunião de junho, o Copom alertou que a deterioração das expectativas de inflação para o próximo ano poderia exigir “uma redução mais tempestiva dos estímulos”.
“A mediana para o IPCA do ano que vem, finalmente, subiu e é mais um argumento para o BC apertar o passo”, disse a estrategista-chefe da MAG Investimento, Patricia Pereira. Segundo ela, a postura “hawkish” (inclinação à retirada de estímulos monetários) do BC no Copom de junho contribuiu para manter as estimativas para a inflação do ano que vem paradas. No entanto, a inércia inflacionária do IPCA-15 de julho, que trouxe uma composição pior do que o esperado, especialmente na parte de serviços, reforça a trajetória mais elevada para a inflação no futuro e pressiona o BC a agir com mais firmeza, diz.
“A lógica é subir mais juros e mais rapidamente, para impedir a desancoragem e fazer um ciclo total menor”, emenda Patricia. “A qualidade da inflação e as expectativas do Focus vão no sentido de que o BC tem de ser mais firme. Ele precisa ser vigilante e seguir sinalizando o compromisso com a convergência de inflação com a meta”, complementa ela. A MAG projeta elevação de 1 ponto da taxa básica no Copom de agosto.
O J.P. Morgan também está entre os que esperam uma alta de tal magnitude no próximo encontro do comitê. Diante da alta das expectativas e do avanço nos preços de serviços, o Copom deverá acelerar o ritmo levar a Selic de 4,25% para 5,25% em agosto. “Nossos modelos sugerem que a taxa Selic precisaria subir até 7,5% para levar a inflação para mais perto da meta, e acreditamos que o Banco Central escolherá antecipar esse ajuste”, afirmam os economistas do banco americano, Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira.
Nos preços de mercado, a alta de 1 ponto se consolidou como o cenário-base. Segundo as opções digitais de Copom, negociadas na B3, há probabilidade de 78% de elevação de 1 ponto e de meros 12% de alta de 0,75 ponto. Na última sexta (23), investidores atribuíam 67% de chance de aperto de 1 ponto e possibilidade de 26% de alta de 0,75 ponto.
Mantendo, assim, as estimativas para IPCA contidas na Focus no radar, os juros de curto prazo se mantiveram sob pressão ao longo do dia e fecharam em alta firme, perto das máximas intradiárias. Em um movimento técnico, associado às perspectivas de uma condução mais agressiva da política monetária, as taxas longas exibiram viés de queda.
Desta forma, a inclinação da curva dada pela spread entre as taxas de um e cinco anos passou de 2,81 pontos na última sessão de junho para 2,57 pontos no momento, perto dos menores níveis em um ano.