O Ibovespa recebeu impulso das empresas da chamada "economia tradicional", dos setores de commodities e financeiro, e fechou em alta firme, conseguindo superar a marca dos 126 mil pontos no fim do pregão. Segundo analistas, o movimento no mercado local de renda variável hoje foi direcionado pelo noticiário externo, pela dinâmica do mercado de juros, que acabou dando força aos bancos na sessão e pelo otimismo dos agentes com a temporada de balanços corporativos no Brasil.
Assim, o Ibovespa encerrou o dia em alta de 0,76%, aos 126.003,86 pontos, não muito distante das máximas do dia, quando marcou 126.214 pontos. O volume financeiro foi de R$ 14,102 bilhões, bem abaixo da média diária do ano, de R$ 23,7 bilhões, o que demonstra que o mercado segue operando com cautela reforçada, sem sinais de grande empolgação.
O dia foi marcado pelo bom desempenho das commodities nos mercados globais, na esteira da primeira valorização dos preços do minério de ferro nos últimos seis pregões. A commodity com pureza de 62% avançou 0,7%, negociada a US$ 202,74 a tonelada, no porto chinês de Qingdao. A alta nos preços do minério impulsionou as ações da Vale ON, que fecharam o dia com ganhos de 2,17% e também deu força às siderúrgicas, com destaque para as altas de 3,54% da CSN, 3,4% da Gerdau e 3,56% da Usiminas.
Por outro lado, gestores afirmam que as notícias de que o governo chinês vai endurecer a regulamentação sobre companhias de tecnologia, desta vez com foco no setor de educação, ampliaram um fluxo de demanda por ações de outros países emergentes. Segundo o chefe de renda variável da ASA Investments, Leonardo Morales, o movimento ajuda a explicar a alta do EWW, fundo de índice (ETF) de ações mexicanas, e do EWZ, de ações brasileiras, mesmo em meio à queda do ETF de mercados emergentes EEM, que possui maior peso das ações chinesas. O ETF mexicano fechou o dia em alta de 1,56%, mesmo percentual que avançou o brasileiro.Já o fundo de índice emergente recuou 1,90%.
Para o gestor de renda variável da BLP Asset Inácio Ponchet os investidores vêm acompanhando uma sequência de intervenções do governo chinês, primeiro em empresas de tecnologia e, agora, em companhias de educação. "Está havendo um grau de desconforto maior com isso. É difícil dizer qual setor não poderia ser o próximo", afirma.
Ele explica que, como há uma diferença muito grande no tamanho dos mercados asiáticos para os da América Latina, qualquer fluxo pode representar movimentos relevantes para as ações locais. "É preciso acompanhar também qual será a postura da MSCI em relação às intervenções chinesas. Caso alguma medida seja tomada, esse fluxo pode ser mais relevante", afirma.
Na visão de analistas, também houve uma divergência entre a performance das empresas ligadas a commodities, que receberam impulso do exterior, e às ligadas ao mercado local, que refletiram mais a dinâmica no mercado de juros hoje. Segundo Tiago Sampaio Cunha, gestor de renda variável da Grou Capital, após a divulgação dos dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) na sexta-feira, houve um aumento relevante nas apostas de uma alta maior de juros por parte do Banco Central na próxima reunião do Copom.
Deste modo, as empresas do setor financeiro, que normalmente se beneficiam de um cenário de juros mais alto, anotaram performance positiva no pregão. "Companhias do segmento imobiliário e de varejo, por exemplo, que dependem bastante de crédito, sofreram um pouco com essa dinâmica hoje", aponta.
Assim, os papéis do Itaú PN encerraram o pregão com ganhos de 1,76%, enquanto as Units do Santander tiveram valorização de 2,25%. Bradesco PN e Banco do Brasil ON fecharam o dia em alta de 0,84% e 1,4%, respectivamente.
Os investidores responderam ainda às expectativas com a temporada de resultados corporativos do segundo trimestre, que engata ritmo mais intenso nesta semana e pode dar indícios da força de recuperação na atividade econômica local. De acordo com a equipe de estratégia do Santander, os preços de commodities favoráveis, uma base de comparação fraca em relação ao ano anterior e uma reabertura da economia devem levar a resultados operacionais sólidos para a maioria das empresas na temporada de resultados do segundo trimestre de 2021.
"Projetamos crescimento da receita líquida consolidada de 52%, ante 40% no trimestre anterior, com EBITDA de 91%, ante 69% no primeiro trimestre e lucro líquido de 180%, ante 48% no período anterior", escreve Ricardo Peretti, estrategista de renda variável da Santander Corretora para Brasil e América Latina, em relatório enviado a clientes.