Atualmente, muito se especula sobre o futuro do mercado de carnes. Consumidores e seus hábitos, bem como forma de produção e comportamentos de compra, têm passado por verdadeiras revoluções, tanto no campo de produção quanto no campo de novas tecnologias para gestão das atividades dentro e fora da porteira. Por isso, nunca foi tão imprescindível para aqueles que trabalham direta ou indiretamente com o segmento se manterem atualizados sobre essas mudanças.
O varejo, como o próprio nome traz, conecta o produto ou serviço ao usuário. Quando pensamos em açougues, bem como acontecia nas farmácias de antigamente, os processos ainda consistem em receber, armazenar e manipular as carcaças, cortar as carnes, embalar e vender.
“Porém, é chegada a hora de repensar essa tradicional prática conservada há décadas, para que melhores resultados sejam atingidos, perdas sejam reduzidas e haja aumento da eficiência na comercialização”, destaca a zootecnista e fundadora do Território da Carne, Andrea Mesquita.
Nesse viés, segundo ela, pode-se dizer que o futuro do varejo de carnes e outras proteínas de origem animal passa por uma remodelagem do negócio, que deve se aprimorar nos processos de identificação de demanda, conhecimento sobre o cliente e suas necessidades específicas, tudo isso associado a dados e informações seguras.
“Vivemos em uma época de abundância de tecnologia e, sabendo usar, todos do setor tendem a ganhar”, avalia a zootecnista. Em termos de produção, da porteira para dentro, ela cita as tecnologias relacionadas ao manejo alimentar dos bovinos.
“Nesse sentido, destacamos a formulação e o acompanhamento de consumo para monitoramento de ganho de peso, ultrassonografia para verificar o crescimento dos tecidos ósseo, muscular e adiposo (a famosa capa de gordura) para identificar o estágio de crescimento do animal”, informa Andrea.
Ela menciona ainda as tecnologias para o monitoramento de emissão de GEE, bem-estar animal, preservação ambiental, entre outras. “Até mesmo o sono dos animais começa a ser monitorado”, cita.
Quanto às tecnologias industriais e de comercialização, a especialista afirma que há uma grande quantidade de ferramentas disponíveis no mercado. “Entre essas, podemos citar self checkout, mobile commerce, biometria, reconhecimento de fala, pesquisa por imagem, interatividade e gamificação, realidade virtual e aumentada, etiquetas eletrônicas de preços, geolocalização interna, automação e chatbot, entrega via drones, impressoras 3D, entre outras, tudo isso conectado em multicanais, com o máximo de preocupação em segurança das informações”, completa.
Em relação à gestão, inovação e rastreabilidade, a zootecnista aponta as tendências e fatores a serem levados em conta por aqueles que fazem parte da cadeia produtiva da carne.
“A tendência é a gestão dos dados. Durante muito tempo, o varejo de carnes se orientou por percepções do comerciante que, muitas vezes, era o próprio dono, sem qualquer controle de informações, dados, números, projeções, análises, etc.”, observa. “Isso enfraquece o segmento que, a cada dia, passa a ser mais competitivo, levando muitos ao insucesso e ao encerramento das atividades”, completa.
Quando o assunto é inovação, na visão da especialista, a ordem é conectar pontos. “Inovar é basicamente gerar valor para o negócio por meio de um novo produto, processo ou serviço. Se não gerar benefícios para a empresa, a novidade pode até ser uma invenção, mas não será inovação”, destaca Andrea, lembrando que empresas que inovam são mais competitivas, tendem a pagar melhores salários e empregar profissionais mais qualificados.
Em relação à rastreabilidade, ela afirma que apesar de o Brasil ter um sistema de rastreio controlado pelos órgãos de inspeção via lotes, o consumidor quer mais do que isso. “O desejo de conhecer os detalhes relacionados ao produto e ao processo produtivo eleva a régua de controle em originação, aumentando a exigência por detalhes, como por exemplo, quem foi a família que acompanhou a produção na fazenda, assim como já se observa em relação ao café”, exemplifica.
Para a executiva, não há tecnologia que substitua o relacionamento interpessoal, ou seja, o atendimento com excelência. “Podemos observar lojas modernas, que fazem o uso de diferentes softwares, com câmaras frias ultramodernas e e-commerce ativo, encerrando suas atividades simplesmente por perderem seus clientes devido ao atendimento abaixo da expectativa”, alerta.
O caminho do aprimoramento, segundo Andrea, deve ser baseado em pessoas e processos. “Definir padrões de comunicação, implantar processos que garantam a identificação precisa da demanda e orientação dos negócios no sentido de resolver o problema do cliente são algumas das premissas”, resume.