25/02/2022 às 13h25min - Atualizada em 25/02/2022 às 13h28min

Especialistas divergem sobre impacto da crise internacional para mercado de trigo no Brasil

A invasão da Ucrânia pela Rússia coloca dois dos maiores produtores mundiais de trigo no campo de batalha e provoca discussões e visões diferentes sobre o futuro do mercado internacional da commoditie.

Dois especialistas no assunto têm previsões diferentes sobre o futuro do mercado de trigo no Brasil. Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Trigo (Abitrigo) e ex-embaixador Rubens Barbosa, disse que o Brasil não corre risco de desabastecimento por causa da invasão da Ucrânia. 

Já o professor Celso Grise, da Universidade de São Paulo, afirmou, em entrevista ao Canal Rural, que os desdobramentos da invasão russa em território ucraniano serão sentidos e a oferta o produto vai ter impacto no mercado brasileiro.

Rubens Barbosa disse ao jornal O Estado de São Paulo que “não haverá consequência do ponto de vista do fornecimento de trigo ao Brasil. Temos fornecedores na Argentina, Paraguai, Uruguai, Estados Unidos, e a produção nacional vem aumentando. Até o momento, não há ameaça de falta do produto no mercado brasileiro”.

Os dois países do leste europeu estão entre os maiores produtores mundiais de trigo. A Rússia é a maior exortadora e a Ucrânia, fica em quarto em embarques da commodities ao mercado internacional, disse a publicação.

Grise, da USP, afirmou ao Canal Rural que “com esse confronto, as commodities agrícolas, vão sofrer uma forte elevação de preço, visto que o trigo tem uma produção enorme na Rússia. O Brasil pode ter que buscar trigo em outros mercados, e se essa crise ficar ainda mais grave, pensar até em substitutos para o cereal”.

O presidente da Abitrigo afirma ao Estadão que o Brasil importa “cerca de 60% do volume processado pela indústria anualmente” e que “o volume adquirido da Rússia é ““pequeno””. Na verdade, a entidade diz que “85% do cereal internalizado é argentino” e que o Brasil não compra trigo da Ucrânia.

“Nos últimos dois anos, a Rússia exportou muito pouco ao Brasil. É uma quantidade marginal”, comentou Barbosa. Em 2021, em torno de 5,4 milhões de toneladas foram compradas na Argentina. O jornal cita os dados como sendo da Agrostat, “sistema de estatísticas de comércio exterior do agronegócio brasileiro.”

O texto fala do impacto no preço da commodities e que a guerra na Ucrânia vai se refletir no valor internacional do produto, fazendo os preços na Argentina se elevarem. Na verdade, indica que mesmo o trigo produzido no Brasil vai ter a paridade com os preços internacionais.

Nesta semana o preço do trigo na Bolsa de Chicago acumulou alta de 16,3%. Há o receito que os países envolvidos no conflito deixem de exportar o trigo se a guerra se disseminar.

“A consequência concreta para os moinhos brasileiros é que terão preços maiores para adquirir o cereal daqui para frente até a entrada da safra do Hemisfério Norte”, disse Barbosa em entrevista.

A isso, se junta a elevação dos preços dos fertilizantes. O risco “é o de outros países consumidores do cereal recorrerem ao fornecimento da Argentina em cenário de interrupção das exportações russas e ucranianas”. Barbosa informa que “a Argentina já vendeu mais de 13 milhões de toneladas das 20 milhões de toneladas que colheu. O volume que está faltando para exportar já deve estar vendido para tradings, que comercializarão para quem pagar mais pelo cereal”.

Barbosa diz ainda que esse cenário não é dado como certo. “Se houver demanda maior pelo trigo argentino pode ser um risco. No momento, o mercado demanda muita cautela. Precisamos esperar para ver a evolução da situação e como ficará o mercado global de trigo e a oferta argentina”. Os outros fornecedores são Estados Unidos, Paraguai e Uruguai.

Até o momento, o presidente da entidade diz eu nenhum moinho associado à Abitrigo “relatou problemas com fornecimento de cereal, mesmo argentino, em decorrência da crise entre Rússia e Ucrânia.”

Da Redação (com informações do Canal Rural e do jornal O Estado de São Paulo).


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