Os avanços tecnológicos têm contribuído para a evolução de toda cadeia produtiva de alimentos, impulsionando o desenvolvimento de técnicas voltadas para o aumento da produtividade e eficiência animal. Nesse aspecto, também se inclui o melhoramento genético, responsável pela formação da estrutura e saudabilidade dos animais.
Pesquisas constantes visam promover essa evolução de forma mais sustentável e com redução de custo para atender às necessidades da pecuária em relação à imunidade dos rebanhos. Nessa linha, um estudo do Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em conjunto com a Embrapa Pecuária Sudeste, desenvolveu uma nova tecnologia para a extração de ácido ribonucleico (RNA) de sangue bovino.
Segundo o geneticista do Laboratório de Genética do Instituto de Zootecnia, Rodrigo Giglioti, diferentemente da análise de DNA, a análise de RNA pode fornecer informações importantes em estudos de expressão de gene(s) específico(s), assim como suas regiões regulatórias.
“Ao estudar um gene relacionado a uma resposta imune de um organismo, podemos avaliar o nível da expressão de diferentes genes, como os mediadores de citocinas, os quais poderão ser associados com a efetividade da resposta imune”, explica o especialista.
Ele acrescenta que, embora a molécula de DNA seja a detentora da informação genética do indivíduo, somente no nível de RNA os genes podem ser mensurados.
Giglioti informa que, através dessa técnica, pode-se obter todo o RNA contido no fluído sanguíneo total, e não apenas os de células brancas. “Ao tentar avaliar a expressão de um gene específico de um patógeno que parasita os glóbulos vermelhos, utilizando a extração de RNA de sangue total, esses genes permanecerão na amostra de RNA total extraído”, destaca.
Ele alerta, porém, que o RNA obtido de sangue ou de outros tecidos pode ser altamente vulnerável à degradação, e, consequentemente, resultar em padrões de expressão gênica alterados.
De acordo com o pesquisador, diferentes métodos de extração de RNA são utilizados para evitar a degradação do material. “Muitas metodologias para essa extração usam reagentes de estabilização, como tubos para colheita de amostras de sangue contendo soluções estabilizantes de RNA, reagentes estabilizantes aplicados no momento de armazenamento do RNA, e também do uso de um kit de extração de RNA comercial adequado”, lista Giglioti.
Contudo, ele aponta que os custos relacionados ao uso desses reagentes e kits podem ser muito altos, especialmente para experimentos que incluem um grande tamanho amostral.
“O presente estudo demonstrou que amostras de sangue total bovino (contendo anticoagulante EDTA) podem ser armazenadas até três dias, em temperatura de geladeira comum (4°C) para extração de RNA, sem influenciar sua qualidade e integridade”, informa.
Giglioti informa que existem poucas pesquisas disponíveis com foco na avaliação da integridade do RNA e expressão gênica durante o armazenamento de amostras de sangue total bovino. “Até onde sabemos, este foi o primeiro estudo a avaliar o tempo de armazenamento do RNA de sangue total bovino não tratado em geladeira comum e sem a adição de quaisquer reagentes estabilizadores de RNA”, diz ele.
Na avaliação do geneticista, os resultados podem constituir uma informação valiosa para estudos, visando o RNA mensageiro bovino em amostras de sangue. “Utilizando uma técnica de baixo custo que nos forneça amostras de RNA com alta qualidade e integridade, a tendência é que pesquisas relacionadas a esse tipo de tecido podem passar a usar um maior tamanho amostral de indivíduos”, arremata.