O presidente Jair Bolsonaro voltou a fazer declarações inverídicas sobre o sistema eleitoral brasileiro e acusou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, de interferir politicamente na tramitação da proposta sobre o voto impresso na Câmara dos Deputados.
"Estava bem encaminhada, a proposta, para tramitar na Câmara dos Deputados. De repente, o ministro Barroso, do nada, presidente do TSE, vai para dentro do Parlamento e se reúne com líderes partidários. Nos dias seguintes, o que muitos desses líderes fazem? Trocam os integrantes da comissão e colocam lá parlamentares contrários à aprovação desse projeto”, disse.
"Ou seja, eles querem ver se matam o projeto na comissão. Então essa é uma interferência clara do senhor ministro Barroso no processo legislativo. Ele tem medo do quê? Ele tá apavorado por quê? Ele estaria refém de alguém? Acredito que não. Mas é um dado bastante preocupante", afirmou o presidente em entrevista de cerca de meia hora à rádio Lado B, do Paraná.
Na sequência, Bolsonaro questionou a contagem dos votos de sua eleição em 2018, conquistada no segundo turno, e também o resultado da eleição presidencial de 2014, vencida por Dilma Rousseff (PT).
"Vou demonstrar o caso da minha eleição, que, no nosso entendimento, ganhamos no primeiro turno. Nós vamos mostrar um quadro quando se cristaliza na tela do seu computador, na televisão. Não é possível, naquele momento, eu ter 49% dos votos, onde quase tudo precisava apurar no Nordeste, quase nada no Sudeste, e a gente passar para 47%. Isso é estatística, isso é matemática, é coisa simples, qualquer um entende", afirmou.
Há mais de um ano o presidente promete apresentar "brevemente" o que diz serem provas de uma suposta fraude na eleição de 2018. "Eu acredito, pelas provas que eu tenho nas minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu fui eleito em primeiro turno", disse em março de 2020.
Nesta quinta-feira, ele também prometeu apresentar, na semana que vem, o resultado de um levantamento que, segundo ele, mostra que a eleição de 2014 foi vencida pelo contra o hoje senador Aécio Neves (PSDB).
O fato é que o pleito foi vencido por Dilma e que uma auditoria realizada pelo PSDB nos sistemas de votação, concluída em novembro de 2015, não encontrou qualquer indício de adulteração de votos, de programas ou do sigilo do pleito.
"Na semana que vem, na quinta ou na sexta-feira, vamos apresentar aqui o que aconteceu no segundo turno por ocasião das eleições de 2014 com Aécio Neves e Dilma. Vai ser uma apresentação bastante objetiva para todos entenderem da inconsistência, da vulnerabilidade de uma coisa inacreditável. Acho que nós temos aí várias ciências e podemos falar em probabilidades", disse Bolsonaro.
Desde 21 de junho o TSE aguarda a entrega, pelo presidente, de evidência que aponte para a ocorrência de fraude nas eleições de 2014 e 2018. No entanto, Bolsonaro não atende à solicitação do tribunal e posterga a apresentação de uma resposta.
Até hoje, desde que a urna eletrônica foi adotada pelo sistema eleitoral brasileiro, em 1996, não foi encontrada nenhuma evidência de fraude no equipamento ou no sistema de informática usado para a contabilização dos votos.