O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin, disse nesta quinta-feira que os questionamentos acerca da integridade das urnas eletrônicas estão sendo feitos "por atores políticos interessados que almejam sequestrar o poder, estabelecendo um regime de inverdade consensual".
Fachin, que presidência do TSE em fevereiro, ainda disse que se trata de "um acordo sobra a mentira", "fruto desses tempos denominados de pós-verdade". "A rigor, é a antessala, é um pré-fascismo", discursou na abertura de um evento da Transparência Eleitoral Brasil.
O encontro, intitulado "Democracia na Pós-pandemia", foi transmitido ao vivo pela internet no dia em que o jornal "O Estado de S. Paulo" publicou reportagem afirmando que o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, mandou um interlocutor avisar ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que não haverá eleições em 2022 sem voto impresso.
Sem citar o episódio ou as reiteradas ameaças feitas pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, Fachin afirmou que a insistência em descredibilizar o sistema atual – que nunca apresentou nenhum indicativo de fraude – é uma medida que visa "naturalizar um eventual descarte da consulta popular, o que, na prática, significa instaurar um regime de exceção".
"O país experimenta, hoje, o assédio discursivo que engloba referências diretas a um eventual boicote ao evento de 2022. Tudo isso se assenta em acusações de fraude categoricamente vazias de provas e sem respaldo na realidade. Em paralelo com a defesa inflamada de um novo método de votação, há governantes que querem mudar as regras em vez de obedecê-las", disse.
Assim como tem feito o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, Fachin afirmou que a implementação de um sistema através do qual o eleitor obtém um comprovante impresso da votação é "pernicioso, antieconômico e ineficaz". A Justiça Eleitoral estima um custo de aproximadamente R$ 2 bilhões.
"Fora do marco eleitoral, fora da democracia, o governo do povo se transforma no governo sobre o povo", continuou.
Ainda segundo o ministro do STF, o ataque às urnas eletrônicas "nada mais é do que o anúncio de um golpe contra a Constituição" e uma "tática elementar de um novo coronelismo, cuja intenção inconfessável mira a demissão das liberdades públicas e o soterramento da democracia".