Mais Arrobas no Semi-Confinamento

João Menezes
17/09/2025 09h36 - Atualizado há 10 horas
Mais Arrobas no Semi-Confinamento
Foto: Divulgação

Durante o período seco, quando as pastagens perdem valor nutricional e a taxa de crescimento dos bovinos tende a cair, o semi-confinamento se apresenta como uma estratégia eficaz para manter o ritmo de engorda e garantir engorda eficiente, mesmo na seca. Essa técnica, que combina o uso de pastagens com suplementação concentrada no cocho, tem ganhado espaço entre pecuaristas que buscam intensificar a produção sem os altos custos de um confinamento tradicional.

A adoção do semi-confinamento, especialmente em sistemas de Terminação Intensiva em Pastagens (TIP), permite aproveitar a estrutura já existente na propriedade, reduzindo investimentos em infraestrutura e mão de obra especializada. Além disso, a flexibilidade do sistema possibilita ajustes rápidos conforme as condições climáticas, disponibilidade de insumos e mercado.

A suplementação estratégica durante a seca é o pilar do semi-confinamento. Estudos demonstram que a inclusão de concentrados energéticos e proteicos na dieta dos animais durante esse período pode elevar significativamente o ganho médio diário (GMD), chegando a 1,2 kg/dia em sistemas bem manejados. A suplementação corrige a deficiência proteica das forragens tropicais e melhora a eficiência da conversão alimentar, permitindo que o animal continue ganhando peso mesmo com pasto de baixa qualidade. A escolha dos ingredientes da dieta deve considerar a relação benefício:custo, sendo o milho um dos principais componentes energéticos. A relação arroba:milho, que mede quantas sacas de milho se pode comprar com uma arroba de carne, tem se mostrado favorável ao pecuarista nos últimos anos, especialmente em períodos de queda no preço do grão. Segundo dados do Cepea/Esalq, em 2022 essa relação chegou a 3,8 sacas por arroba produzida, indicando que hoje, existe boa margem de rentabilidade, com essa relação em 4,78.

Comparado ao confinamento total, o semi-confinamento apresenta vantagens como menor custo diário por cabeça, menor exigência de manejo intensivo e menor risco sanitário, já que os animais permanecem em ambiente mais natural. Por outro lado, o controle da ingestão de suplemento e a variabilidade da qualidade do pasto exigem atenção constante do técnico responsável. A eficiência do sistema depende de fatores como o tipo de pastagem, o tempo de acesso ao cocho, o número de tratos diários e a adaptação dos animais à dieta. Dados mostram que bovinos em confinamento tradicional apresentam ganho médio diário acima de 1,5 kg, enquanto sistemas de semi-confinamento bem manejados alcançam valores próximos, com menor custo operacional e maior aproveitamento da estrutura da fazenda (Tabela 1).

Tabela 1 – Desempenho animal em diferentes sistemas de produção.

Fonte: Embrapa Gado de Corte – Coleção Criar: Confinamento de Bovinos

A rentabilidade do semi-confinamento está diretamente ligada à gestão eficiente dos recursos. Ferramentas como planilhas e aplicativos, permitem simular cenários produtivos e econômicos, auxiliando o produtor na tomada de decisão. Com base em dados reais da propriedade, é possível calcular o custo por arroba produzida, estimar o retorno sobre o investimento e ajustar a dieta conforme os objetivos de engorda. Essa abordagem técnica, aliada ao conhecimento prático do pecuarista, potencializa os resultados e contribui para a sustentabilidade econômica da atividade.

O TIP, como modalidade de semi-confinamento, tem se consolidado como alternativa viável para terminação de bovinos na própria fazenda. Ao utilizar pastagens manejadas intensivamente e suplementação concentrada, o sistema permite abater animais com acabamento adequado e peso de carcaça competitivo, sem a necessidade de transporte para confinamentos externos. Essa prática reduz o estresse dos animais, melhora o bem-estar e pode impactar positivamente na qualidade da carne. O TIP pode ser implementado com sucesso em diferentes regiões do Brasil, desde que haja planejamento nutricional, controle de lotação e monitoramento constante do desempenho dos animais.

A busca por mais eficiência no semi-confinamento não é apenas uma questão de técnica, mas de estratégia. Em um cenário de volatilidade nos preços dos insumos e da arroba, o produtor que domina os fundamentos da suplementação, entende a dinâmica do mercado e utiliza ferramentas de gestão tem maior chance de obter lucro e estabilidade. O semi-confinamento, quando bem conduzido, transforma o desafio da seca em oportunidade de intensificação, permitindo que o pecuarista produza mais carne por hectare, com menor risco e maior controle sobre os custos. A reflexão que fica é que, diante das transformações da pecuária moderna, investir em conhecimento técnico e gestão é tão importante quanto investir em insumos. Afinal, mais arrobas não vêm apenas do cocho, mas da cabeça do produtor.


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