A proteína é um dos pilares fundamentais para o sucesso na pecuária eficiente, sendo essencial para o desempenho dos animais. Ela vai além de simplesmente nutrir: influencia diretamente o consumo de alimento e a degradação ruminal, impactando o ganho de peso e a produtividade do rebanho. Em pastagens tropicais, comuns no Brasil, os teores de proteína muitas vezes ficam abaixo das necessidades dos animais, especialmente durante a seca. É aí que os suplementos proteicos entram em cena, oferecendo uma solução para elevar o desempenho. Mas o segredo não está apenas em adicionar proteína à dieta. O verdadeiro diferencial vem do balanceamento preciso entre proteína e energia, ajustando as proporções de proteína degradável no rúmen (PDR) e não degradável (PNDR). Quando bem planejadas, essas dietas não só otimizam a resposta aos suplementos, mas também melhoram a relação custo-benefício, sendo a base para qualquer programa nutricional eficiente.
Para alcançar melhores desempenhos, o ponto de partida é conhecer a fundo a qualidade das pastagens e dos suplementos utilizados. As pastagens tropicais, embora amplamente disponíveis, nem sempre entregam os nutrientes necessários para sustentar o desempenho potencial dos animais. Durante a estação seca, por exemplo, o teor de proteína bruta pode cair drasticamente, comprometendo o crescimento, a reprodução e até a saúde do rebanho. Fazer análises regulares da forragem é uma prática simples, mas poderosa. Esses dados revelam os níveis de proteína, fibra e energia disponíveis, permitindo que o produtor ajuste a suplementação de acordo com as demandas específicas do gado em cada fase do ano. Sem esse conhecimento, a suplementação corre o risco de ser um tiro no escuro, desperdiçando recursos e limitando os resultados.
Os suplementos proteicos, quando aplicados corretamente, são aliados indispensáveis para corrigir as deficiências das pastagens. Mas quantidade não é sinônimo de qualidade. A proteína degradável no rúmen, ou PDR, é quebrada rapidamente pelos microrganismos ruminais, fornecendo nitrogênio para a produção de proteína microbiana, um processo essencial para a digestão da forragem. Já a proteína não degradável, a PNDR, passa pelo rúmen e é absorvida no intestino delgado, entregando aminoácidos diretamente ao animal. O equilíbrio entre esses dois tipos é crítico. Um excesso de PDR sem energia suficiente para acompanhar pode resultar em desperdício de nitrogênio, elevando custos e até afetando a saúde do animal. Por outro lado, uma oferta insuficiente de PDR limita a atividade microbiana, reduzindo a eficiência na digestão do pasto.
Outro aspecto vital é a sincronia entre a liberação de proteína e energia no rúmen. Quando esses nutrientes estão disponíveis ao mesmo tempo, os microrganismos trabalham de forma mais eficiente, aumentando a produção de ácidos graxos voláteis, a principal fonte de energia para o gado. Isso se traduz em melhor aproveitamento do alimento e, consequentemente, mais arrobas no cocho. Formular dietas que levem em conta essa cinética exige atenção aos ingredientes dos suplementos e às características das pastagens. Ferramentas como o Sistema de Nutrição de Cornell (CNCPS) ou o Modelo BR-CORTE podem ser grandes aliadas, ajudando a prever o desempenho animal e a ajustar a suplementação com precisão.
Conhecer a qualidade dos recursos disponíveis não é o único passo. O manejo das pastagens também faz diferença. Práticas como a rotação de pastos, época de veda e o controle da altura do capim aumentam a oferta natural de proteína e energia, reduzindo a dependência de suplementos caros. Pastagens bem cuidadas não só nutrem melhor o gado, mas também mais produtivas e eficientes. Entender os fundamentos da nutrição ruminante e aplicá-los na prática pode transformar a eficiência da fazenda, trazendo resultados consistentes e econômicos.
No fim das contas, alcançar mais arrobas com ajuste da proteína é uma questão de estratégia. Tudo começa com o conhecimento detalhado das pastagens e segue com o uso inteligente de suplementos, equilibrando PDR e PNDR e sincronizando proteína e energia. Dietas bem formuladas, apoiadas em ferramentas modernas e boas práticas de manejo, são o caminho para maximizar o desempenho animal e a rentabilidade. Diferentes níveis de suplementação impactam o ganho de peso e a eficiência alimentar, mostrando o poder de um ajuste bem-feito (Tabela 1).
Tabela 1: Efeito da Suplementação Proteica no Desempenho de Bovinos em Pastagem (Adaptado de Silva et al.,2020).
Investir em conhecimento, tecnologia e manejo é o que separa uma pecuária comum de uma pecuária eficiente. Com ajustes precisos na oferta de proteína, o produtor não só coloca mais peso no gado, mas também mais lucro no bolso, construindo um sistema produtivo e sustentável a longo prazo.