Guerra comercial pressiona juros e pode redefinir caminhos da política monetária no Brasil, aponta Bradesco

Estudo do banco projeta Selic em 14,75% neste ano e corte só a partir de dezembro; desaceleração global causada pelas tarifas entre EUA e China afeta expectativas de inflação e crescimento

- Da Redação, com MoneyTimes
02/05/2025 10h25 - Atualizado há 14 horas

A intensificação da guerra comercial entre Estados Unidos e China, marcada por tarifas bilaterais elevadas, está provocando efeitos em cadeia na economia global — e pode forçar o Banco Central do Brasil a reavaliar sua estratégia de política monetária, segundo análise do Departamento de Pesquisas Econômicas do Bradesco.

 

Com o Comitê de Política Monetária (Copom) se reunindo na próxima semana, a expectativa é de que a taxa Selic suba mais 0,5 ponto percentual, encerrando o ciclo em 14,75% ao ano. A tendência, no entanto, é de que o cenário externo adverso — com desaceleração da atividade e impactos nos preços — abra espaço para um afrouxamento monetário a partir de dezembro, aponta o estudo.
 

“A guerra tarifária eleva a incerteza a níveis históricos. No entanto, a sobreoferta de produtos industriais chineses tende a pressionar os preços para baixo no Brasil, abrindo margem futura para juros menores”, afirma o banco.
 

PIB de 1,8% e Selic alta por mais tempo
 

Apesar das tensões globais, o PIB brasileiro deve crescer 1,8% em 2025, impulsionado por dados fortes no primeiro trimestre. A inflação oficial (IPCA) segue estimada em 5,6% para este ano, com leve revisão para 2026: de 3,8% para 3,7%, considerando os efeitos desinflacionários da desaceleração global.
 

No entanto, a combinação de inflação ainda elevada e incertezas externas levará o Copom a manter o aperto monetário por mais uma reunião, segundo o Bradesco. O corte de juros só começaria no fim do ano, com previsão de Selic a 11,75% em 2026.

 

Dólar e exportações
 

A desvalorização global do dólar, estimada em R$ 5,80 para o fim de 2025 e 2026, pode aliviar pressões cambiais. Por outro lado, a desaceleração da China e os efeitos do “tarifaço” dos EUA devem impactar o comércio internacional e afetar preços de commodities.
 

Mesmo assim, a pauta exportadora brasileira à China, com foco em soja, milho e carnes, ficou menos sensível ao ciclo econômico chinês, avalia o banco.

 

Tarifas e temor de recessão
 

O conflito iniciado em abril entre Washington e Pequim já levou a tarifas médias de importação dos EUA a quase 30%, contra menos de 5% no fim de 2024. Setores como aço e automóveis enfrentam sobretaxas de até 25%, enquanto a China reagiu com tarifas de até 125% sobre produtos americanos.
 

O Bradesco alerta que esse movimento pode ser o início de uma disputa financeira, comprometendo o fluxo de capitais e investimentos globais. A estimativa de crescimento dos EUA para 2025 foi revisada de 2% para 0%, enquanto o núcleo da inflação saltou para 3,6%.
 

PIB global em risco
 

Nos EUA, o Federal Reserve deverá enfrentar um dilema entre controlar a inflação e evitar uma recessão. O Bradesco prevê dois cortes na taxa de juros ainda em 2025, caso o risco de desaceleração se confirme. Para o PIB global, a projeção caiu de 3,1% para 2,3%.
 

Apesar do cenário turbulento, o banco acredita que uma recessão profunda pode ser evitada se houver coordenação internacional. “Os maiores impactos devem recair sobre os EUA, mas outras regiões, como Europa e China, também sentirão os efeitos.”

 

 


 

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