Após uma manhã bastante volátil, o dólar se firmou em queda em relação ao real e apagou parte da alta observada ontem, quando um ambiente de aversão a risco tomou conta dos mercados globais. No fim do dia, o dólar era negociado a R$ 5,2307, em queda de 0,37% no mercado à vista. A recuperação da moeda brasileira se dá em linha com movimentos semelhantes em outras divisas de mercados emergentes, mas em um dia de fortalecimento do dólar contra moedas principais, o que limitou a valorização da taxa de câmbio por aqui.
Da mínima à máxima do dia, a moeda americana andou R$ 0,09, o que mostra a volatilidade nesta terça-feira. Após ter subido mais de 2% ontem, o dólar voltou a exibir valorização contra o real durante a primeira etapa dos negócios, mas o ímpeto da moeda americana perdeu força ainda no fim da manhã.
Ontem o real foi a moeda que mais sofreu com a subida do dólar e mostrou desempenho bastante inferior aos pares. Nesta terça-feira a história foi diferente. Por volta de 17h, o dólar caía 0,47% contra o rublo russo, cedia 0,62% em relação à rupia indiana e recuava 0,26% contra o peso chileno. Houve apreciação do dólar, porém, contra algumas emergentes, como o peso mexicano (+0,58%), o rand sul-africano (+0,63%) e, principalmente, contra o peso colombiano (+1,73%). Já o índice DXY, que mede o desempenho do dólar contra uma cesta de outras seis moedas principais, passou o dia em alta e ficou acima dos 93 pontos durante boa parte do pregão.
“Olhando para os mercados de forma geral, o único ativo que destoou no exterior foi o dólar, que está mais forte. As bolsas respeitaram o suporte, assim como os juros dos Treasuries, mas o dólar continuou subindo. Acredito que o DXY não deve mais subir muito e deve parar entre 93 e 93,5 pontos porque não vejo uma queda grande das commodities. Se o DXY voltar para 92,5 pontos, acho que o real pode ter uma boa performance, mas é preciso acompanhar os passos dos bancos centrais”, aponta o diretor da WIA Investimentos José Faria Junior. Vale lembrar que na quinta-feira o Banco Central Europeu (BCE) anuncia sua decisão de política monetária.
O economista e diretor executivo da NGO, Sidnei Nehme, lembra que apesar da reacomodação dos preços no pregão de hoje diante dos movimentos exacerbados, as preocupações que se acentuaram com a ameaça da retomada da pandemia a nível mundial perduram. Em relatório, ele observa que os movimentos abruptos “são alertas consistentes dos desafios que o Brasil tem pela frente, visto que só conseguiu imunizar duplamente pouco mais de 15% da população”.
De acordo com Nehme, há quase um consenso de que o preço do dólar no Brasil deveria estar no nível de R$ 5,00. Ele, porém, nota que “a intensificação da antecipação da campanha eleitoral focando a sucessão presidencial e o desgaste e intranquilidade que isso vem proporcionando (...), que afetam perspectivas acerca da reforma tributária e, praticamente, inviabilizam a reforma administrativa, criam pontos de resistência ao ajuste efetivo do preço do câmbio”.