A guerra comercial deflagrada pelo ex-presidente Donald Trump voltou a gerar instabilidade nos mercados e preocupações no mundo dos negócios. Na quarta-feira (16), o impacto das medidas tarifárias do governo norte-americano derrubou o mercado de ações dos Estados Unidos, especialmente o setor de tecnologia, e aumentou o clima de incerteza para empresas e consumidores.
A gigante Nvidia, referência na produção de chips de inteligência artificial, anunciou que as restrições de exportação impostas à China devem gerar um impacto contábil de US$ 5,5 bilhões. O anúncio derrubou suas ações em 7%, arrastando o índice Nasdaq Composite para uma queda de 3%. Outras empresas do setor, como a Advanced Micro Devices (AMD), também revisaram projeções para baixo — a AMD, por exemplo, estima prejuízo de US$ 800 milhões com as novas regras.
A pressão também chegou às fabricantes de equipamentos para chips, como a holandesa ASML, que alertou sobre um cenário incerto para os próximos dois anos. Autoridades do setor estimam que as restrições tarifárias possam causar um prejuízo de cerca de US$ 1 bilhão por ano a fabricantes norte-americanos.
A insegurança chegou a outros setores. A United Airlines, mesmo mantendo sua previsão de lucro para o ano, apresentou dois cenários diferentes para 2025, afirmando que o ambiente macroeconômico é "impossível de prever com confiança". O setor aéreo teme uma temporada de viagens de verão com demanda menor, diante do risco de retração do consumo.
No campo político, Trump assumiu pessoalmente as negociações com o Japão nesta quarta-feira, afastando o diálogo entre ministros e colocando ele próprio à frente das tratativas. O Japão, que exporta mais de 1 milhão de carros por ano aos EUA, teme aumento de preços com as tarifas e já discute a possibilidade de transferir parte da produção para território americano — uma operação que levaria anos para se consolidar. “Precisamos de uma pausa nas tarifas para conseguir organizar a base de fornecedores aqui”, afirmou Christian Meunier, presidente da Nissan Américas.
Em meio à tensão econômica, o presidente do Banco Central dos EUA (Federal Reserve), Jerome Powell, disse que a economia está desacelerando e alertou que as tarifas podem pressionar ainda mais a inflação. “Parte dos custos será repassada ao consumidor”, afirmou. O clima de incerteza já afeta o humor do mercado e os hábitos de consumo.
Embora o varejo tenha apresentado bons resultados em março, principalmente nas vendas de automóveis, outros setores deram sinais de enfraquecimento. Grandes redes de desconto como Temu e Shein já alertam seus clientes: os preços devem subir a partir de 25 de abril. “Com medo de pagar mais amanhã, as pessoas estão comprando hoje”, comentou um executivo do setor.
A incerteza também atinge a indústria. “Todo mundo correu em março para conseguir o que precisava”, relatou Marko Bebek, gerente de vendas da fabricante de equipamentos agrícolas LB White. Agora, o ritmo dos pedidos deve cair, à medida que os efeitos da guerra comercial avançam em diferentes cadeias produtivas.