O governo brasileiro anunciou, nesta quarta-feira (12), que está avaliando diversas opções de ação no campo do comércio exterior em resposta à tarifa de 25% imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre as importações de aço e alumínio, medida que entrou em vigor no mesmo dia. Entre as alternativas avaliadas, o governo considera recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC), como forma de contestar a imposição de tarifas consideradas protecionistas.
O Brasil é um dos principais exportadores de aço e alumínio para os Estados Unidos, com destaque para as exportações de aço semiacabado. Em 2024, as exportações brasileiras desses produtos para os EUA somaram US$ 3,2 bilhões. O governo brasileiro lamentou a decisão e afirmou que a medida é “injustificável e equivocada”, ressaltando que a relação comercial entre os dois países é historicamente positiva, com os EUA mantendo um superávit comercial com o Brasil.
Além disso, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) prevê que a tarifa de 25% pode gerar uma queda de 2,19% na produção de aço e alumínio, e uma redução de 11,27% nas exportações brasileiras desses produtos. Apesar desses números significativos, o impacto sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil seria considerado insignificante, com uma queda estimada de apenas 0,01%.
Em resposta à medida, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou que o governo brasileiro prioriza a negociação e não as represálias. Ele destacou a importância de um diálogo para reverter a decisão, sendo esse o melhor caminho para ambos os países. O Brasil também deve preparar uma nota técnica para orientar as negociações com o governo dos EUA.
A imposição de uma tarifa sobre as importações de aço e alumínio pelos Estados Unido pode ter um efeito inesperado para o Brasil. Embora a siderurgia nacional seja impactada diretamente, o setor de máquinas agrícolas pode se beneficiar com a medida, segundo avaliação de Marcos Perez, superintendente de Mercado Interno da Associação Brasileira de Indústrias e Equipamentos (Abimaq).
Perez argumenta que o aumento nos custos da matéria-prima pode comprometer a competitividade das máquinas agrícolas produzidas nos EUA, abrindo espaço para que equipamentos brasileiros ganhem mais mercado. Como a tarifa afeta todos os fornecedores internacionais, os americanos não teriam para onde recorrer sem pagar preços mais altos.
O impacto maior, segundo o especialista, será sobre o aço semiacabado, já que o Brasil exporta para os EUA um tipo de aço que ainda precisa ser finalizado no país, muitas vezes em empresas que operam como joint ventures.
O comentarista do Canal Rural, Miguel Dauod, destacou que a China, maior produtora mundial de aço e alumínio, pode manter sua competitividade mesmo com a aplicação da tarifa. Segundo ele, os chineses possuem uma superoferta dessas commodities e podem encontrar formas de continuar abastecendo o mercado americano a preços competitivos.
No entanto, Dauod lembrou que a relação entre Donald Trump e a China é historicamente conturbada, o que pode trazer desdobramentos mais complexos para o comércio global.