O presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Otto Alencar (PSD-BA), disse ao Valor nesta terça-feira que mesmo senadores favoráveis à privatização dos Correios não querem assumir a relatoria do projeto que trata da quebra do monopólio da empresa nos serviços postais. A matéria foi aprovada pela Câmara dos Deputados no início do mês, mas enfrenta resistências no Senado.
Segundo Otto, os únicos nomes interessados em conduzir as discussões sobre a privatização são os próprios líderes do governo, Eduardo Gomes (MDB-TO) e Fernando Bezerra (MDB-PE), o que ele não aceita. "Não aceito indicação do governo, não aceito Fernando Bezerra [como relator], não aceito Eduardo Gomes. Tem que ser um nome independente, e ninguém quer. Eu vou fazer o quê? Quem está a favor também não quer. Precisa achar um [relator]", explicou.
Um dos motivos para essa resistência é o fato de os Correios serem lucrativos. Em 2020, por exemplo, a estatal registrou lucro líquido de R$ 1,53 bilhão. O resultado representa um forte salto frente ao ganho de R$ 102,1 milhões obtido em 2019. Além disso, os Correios têm hoje aproximadamente 100 mil funcionários, o que preocupa os senadores, já que o país tem alto índice de desemprego.
Otto disse também que a bancada do PSD se reuniu para discutir o assunto nos últimos dias e muitos senadores manifestaram contrariedade com o texto. O próprio presidente da CAE já disse, recentemente, que este "não é o melhor momento para uma privatização".
Pelo calendário do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a aprovação do projeto pelo Congresso precisaria ocorrer neste mês de agosto para que o leilão fosse feito pelo governo em abril. O projeto autoriza a venda de 100% dos Correios em leilão.
Inicialmente, o governo cogitava lançar ações em bolsa e ficar com parte do capital da empresa, modelo que repetiria os da Petrobras e da Eletrobras, mas desistiu após avaliar que isso diminuiria o interesse privado pela estatal. Além do Congresso, as regras da operação também precisam passar pelo aval do Tribunal de Contas da União (TCU), ao qual o governo espera submeter o modelo de venda em dezembro.