Após a forte queda na semana passada, o dólar comercial viveu um dia de poucos movimentos nesta segunda-feira. Em linha com o comportamento geral do câmbio lá fora, a moeda americana oscilou entre leves altas e baixas, com investidores aguardando dados importantes que saem esta semana.
No encerramento do dia, o dólar fechou em baixa de 0,09%, a R$ 5,1888. No mesmo horário, ele caía 0,13% contra o peso mexicano e 0,31% ante o rand sul-africano, mas subia 0,12% frente ao rublo russo e 0,35% na comparação com a lira turca.
De maneira geral, as moedas exibem variações pequenas contra o dólar na sessão, à medida em que investidores vão virando a página do simpósio de Jackson Hole e passam a focar em indicadores como o payroll, na sexta-feira.
"Nosso cenário macro para os EUA será testado esta semana. Como Powell deixou claro, os dados continuam sendo a chave para eventuais mudanças", afirmam os estrategistas do Brown Brothers Harriman. "Caso a expectativa de crescimento para a economia americana desacelere significativamente, isto será um 'game-changer' para a projeção do dólar, à medida em que o Fed teria que atrasar ainda mais seus planos. Por outro lado, a moeda americana ainda pode encontrar algum suporte nesse ambiente, dado que toda a economia global desaceleraria junto".
Por outro lado, apesar de se manterem em segundo plano, as preocupações políticas seguem no radar, diz o estrategista-chefe do Mizuho no Brasil, Luiciano Rostagno. “O mercado está esperando as manifestações de 7 de setembro e qual será a postura do presidente Jair Bolsonaro para avaliar melhor como tende a ser o ambiente político. Até lá, acredito que vai ficar um pouco no compasso de espera por essa questão.”
O cenário político e fiscal têm pesado contra a moeda brasileira nos últimos meses. Já as contas externas, embora tenham permanecido equilibradas em julho no Brasil - com um déficit em conta corrente acumulado em 12 meses de 1,3% do PIB - continuam apontando para uma baixa entrada de capitais, avalia o Safra. “Essa combinação deverá persistir nos próximos trimestres, com bom desempenho da balança comercial, pouca pressão na de serviços, inclusive serviços da dívida, mas pouca entrada de investimentos diretos ou em carteira”, avaliam os economistas do Safra em relatório enviado a clientes.
No relatório, os economistas apontam que a taxa de câmbio que equilibra a situação de pouco ingresso de capital é, em geral, menos valorizada do que a contemplada em grandes entradas. “A pouca entrada de capital também exige baixo déficit em conta corrente, traduzido, por exemplo, em importantes supéravits comerciais. O câmbio pouco valorizado estimula esse superávit, garantindo o equilíbrio das contas externas sem necessidades de vendas de reservas internacionais”, apontam os profissionais.
O Safra observa que, no último ano, “a entrada de capital por conta das exportações tem sido menor do que o valor das exportações embarcadas, revelando a preferência do exportador em manter recursos no exterior, ao invés de internalizá-los para financiar investimentos no país ou de outra forma estimular a absorção interna”. Uma apreciação do câmbio, argumentam, exige uma melhora do ambiente econômico e redução das incertezas.
“A credibilidade fiscal e a garantia da estabilidade na tributação tendem a ser fatores importantes nas decisões de investimentos no Brasil, por conta de investidores e exportadores. O maior ingresso de capitais e a apreciação do câmbio que ele poderia promover ajudariam no combate à inflação, evitando, provavelmente, um ciclo de aumento de juros excessivo ou freios ao crescimento econômico à frente”, afirmam os economistas do banco.