Volta de Trump ao poder aumenta disputa agrícola entre Brasil e EUA

Políticas protecionistas prometem redirecionar mercados e desafiar negociações bilaterais no agronegócio

- Da Redação, com Canal Rural
20/01/2025 08h16 - Atualizado há 1 semana
Volta de Trump ao poder aumenta disputa agrícola entre Brasil e EUA
Foto: Alan Santos /PR

O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, oficializado nesta segunda-feira (20), marca o início de um cenário de maior rivalidade no comércio agrícola entre Brasil e EUA. Anunciando uma postura protecionista, Trump sinaliza a aplicação de tarifas elevadas sobre importações, o que pode impulsionar o Brasil a ganhar espaço em mercados como o chinês, mas também dificultar negociações comerciais diretas com os norte-americanos.

 

Guerra comercial com a China

 

Especialistas apontam que a possível retomada da guerra comercial entre Estados Unidos e China será um fator crucial para o agronegócio brasileiro. O confronto tarifário, semelhante ao ocorrido no primeiro mandato de Trump, pode levar a China a aumentar a compra de produtos como soja e milho do Brasil.

 

“Exportamos 64% de nossos grãos, carnes e algodão para a China, enquanto os Estados Unidos fornecem 34%. Apesar de os ganhos potenciais serem menores do que na primeira fase da guerra comercial, há benefícios no curto e médio prazo para o Brasil”, analisa Marcos Jank, coordenador do Insper Agro Global.

 

No entanto, a China pode buscar manter uma diversificação estratégica entre fornecedores do Hemisfério Sul e do Norte, pondera Jank. Além disso, possíveis tréguas comerciais fazem parte da dinâmica política de Trump, o que pode limitar ganhos brasileiros no longo prazo.

 

Impactos Brasil-EUA

 

O Brasil, segundo maior destino de exportações agropecuárias dos EUA, enfrenta desafios para ampliar mercados no país norte-americano, devido às políticas protecionistas de Trump. Entre os principais entraves estão a ampliação das cotas de carne bovina e açúcar brasileiros e as tarifas de 18% aplicadas ao etanol norte-americano.

 

“O protecionismo de Trump deve dificultar negociações para reduzir tarifas e aumentar cotas. No entanto, os problemas domésticos de oferta nos Estados Unidos devem manter a carne brasileira em alta demanda”, avaliou um representante do setor exportador.

 

Em 2024, o Brasil exportou 229 mil toneladas de carne bovina para os EUA, gerando US$ 1,3 bilhão. O café lidera a pauta de exportações brasileiras ao mercado americano, com 7,8 milhões de sacas enviadas no último ano.

 

Pragmatismo como estratégia

 

Para Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a abordagem pragmática é essencial. “Defendemos manter boas relações comerciais. Não há sinais de que mudanças políticas afetem os números da balança comercial.”

 

Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e professor da FGV, reforça que o Brasil deve negociar com habilidade, buscando fortalecer sua posição global. “O protecionismo é uma ameaça real, mas o agronegócio brasileiro deve se adaptar e se beneficiar de mercados abertos no mundo todo.”

 

Cenário global

 

A volta de Trump também pode acelerar processos de desglobalização, enfraquecendo organizações como a Organização Mundial do Comércio (OMC). “Sem organismos multilaterais fortes, o comércio global perde rumo, prejudicando inclusive o Brasil”, alerta Rodrigues.

 

No entanto, o Brasil possui vantagens competitivas para aproveitar o redirecionamento do mercado agrícola global, especialmente em tempos de instabilidade geopolítica. Como destaca Luis Rua, secretário de Comércio Internacional do Ministério da Agricultura, “o país continuará se posicionando como fornecedor confiável em meio a possíveis escaladas protecionistas dos Estados Unidos.”

 

 


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