13/01/2025 às 10h37min - Atualizada em 13/01/2025 às 10h37min

De olho no futuro: os avanços do Brasil rumo à pecuária sustentável

Marina Piatto, Marina Guyot e Lisandro Inakake
Foto: reprodução
Olhando em retrospectiva, 2024 trouxe grandes avanços para a pecuária brasileira aumentar a competitividade em um mercado cada vez mais exigente quanto à sustentabilidade dos produtos que consome. Alguns dos grandes passos nesse sentido foram o lançamento do Plano Nacional de Rastreabilidade Individual da Pecuária, que prevê a identificação obrigatória de bovinos e bubalinos em todo o território nacional até 2032 e dá um prazo de dois anos para que todos os estados implementem os sistemas que permitirão aos produtores realizarem o registro do gado junto ao governo federal.
 
Nesse sentido, o estado do Pará saiu na frente quando lançou, por meio do decreto 3.533 em novembro de 2023, o programa de Desenvolvimento Sustentável da Pecuária do Pará, que inclui a identificação individual de bovinos e bubalinos associada à integridade socioambiental das propriedades rurais até o final de 2026.
 
Além disso, houve avanço no diálogo com o mercado chinês, com a apresentação do protocolo Boi na Linha como um mecanismo aderente aos requisitos de uma sociedade em rota para o que chama de Civilização Ecológica, caracterizada por um estilo de vida de baixo carbono, conforme assumido pelo governo chinês.
 
Outro fato marcante no ano foi o adiamento para dezembro de 2025 da entrada em vigor da lei antidesmatamento da União Europeia, a EUDR. Ainda que o adiamento seja problemático do ponto de vista ambiental, espera-se que seja positivo para o amadurecimento dos instrumentos em desenvolvimento para esse controle, como a Plataforma AgroBrasil+Sustentável, anunciada pelo Ministério da Agricultura também nessa reta de final do ano. Esse instrumento público, que permite qualificar a produção brasileira em relação a quesitos socioambientais, é, sem dúvida, um marco na agenda da sustentabilidade da agropecuária brasileira.
 
Todos esses eventos aconteceram em um ano pautado pelo agravamento das mudanças climáticas e pelo quarto aumento consecutivo de emissões de gases de efeito estufa no setor agropecuário. Dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), referentes a 2023, indicaram aumento de 2,2% mais gás carbônico equivalente do que no ano anterior, devido principalmente ao aumento do rebanho bovino. Para resolver essa equação, a pecuária brasileira precisará abraçar práticas regenerativas para provar que é sustentável, além de mostrar que é livre de desmatamento ilegal e de trabalho análogo à escravidão.
 
Há condições para responder a esse desafio. Afinal, 2024 inaugurou uma nova fase para a pecuária brasileira, com a criação de políticas e instrumentos concretos de compromisso com a responsabilidade socioambiental. Olhando para o futuro, a expectativa é que 2025 seja um ano de consolidação desses avanços, com entrega de resultados concretos. A ocorrência da COP 30 em Belém colocará o país no centro das atenções mundiais no que diz respeito às políticas e práticas de cunho ambiental e social. E o setor pecuário não estará isento dessa atenção. A boa notícia é que ele agora tem a faca e o queijo nas mãos para fazer bonito. O ano termina deixando um legado positivo a ser celebrado, mas também muito trabalho para concretizar as novas ferramentas que irão respaldar a sustentabilidade do setor.
 
Marina Piatto é diretora executiva; Marina Guyot é gerente de Políticas Públicas e Lisandro Inakake é gerente de projetos em Cadeias Agropecuárias – todos do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), organização associada da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável.
 
 
As opiniões contidas neste artigo não refletem necessariamente a opinião da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável.

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