O rali de alívio do mercado de câmbio no Brasil ganhou mais um motivo para continuar dando as cartas nesta sexta-feira. Após iniciar a semana perto dos R$ 5,40 refletindo uma combinação de fatores domésticos, a moeda americana foi perdendo ímpeto em meio a sinais de apaziguamento das questões políticas domésticas. O discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, efetivamente postergou outra preocupação dos mercados: início da redução de estímulos nos Estados Unidos. Assim investidores voltaram a tirar prêmio de risco no câmbio, permitindo que a moeda americana voltasse a patamares não vistos desde o início do mês.
No encerramento do dia, o dólar foi negociado a R$ 5,1935, baixa de 1,20%. Esse é o menor patamar de fechamento desde o dia 4, quando fechou cotado a R$ 5,1838. Outros pares emergentes também tiveram ganhos expressivos. No horário de fechamento, o dólar cedia 1,12% ante o rand sul-africano, 1,01% frente ao rublo russo e 0,93% ante o peso mexicano.
Em sua fala, Powell reiterou que os dirigentes do Fed têm um plano de começar a reduzir os estímulos este ano — atualmente, o BC americano compra US$ 120 bilhoes por mês em ativos. No entanto, ponderou que, apesar do progresso do mercado de trabalho americano, o novo surto de covid, provocado pela variante delta do coronavírus, “confunde as perspectivas”.
Powell ponderou ainda que, embora o nível da inflação satisfaça o necessário para iniciar o processo de retirada dos estímulos, ela continua com característica de temporária, com algumas pressões de preços se dissipando em determinados setores.
"O discurso do Powell acalmou os ânimos do mercado ao sinalizar que o Fed permanecerá paciente enquanto tenta levar a economia de volta ao nível de pleno emprego. Não houve antecipação de qualquer detalhe do ritmo do 'taper', o que estava no radar do mercado. E isso fez o humor melhorar", avalia Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos. "Uma melhora do humor nos EUA impacta diretamente os emergentes. Para nós, é bom porque ganhamos uma janela maior para atrair investimento neste segundo semestre."
Vale pontuar que Powell não tirou de curso o anúncio do 'taper', apenas não o anunciou esta manhã, como setores do mercado temiam. "Em seu discurso, Powell reafirmou que o Fed está chegando perto da decisão de reduzir os estímulos, em linha com a comunicação das últimas semanas. Ainda esperamos uma decisão sobre o assunto no quarto trimestre", diz o economista sênior do Commerzbank Christoph Balz.
Para o diretor de investimentos da TAG, Dan Kawa, a melhora do humor dos mercados mesmo diante da confirmação da rota em direção à redução do QE pode ser explicada pelo fato de que este entende que o os juros de equilíbrio de longo-prazo sejam baixos. "Assim, quanto antes o Fed normalizar a política monetária, menos espaço terá para fazê-la, ou seja, os juros não poderão ser elevados a taxas muitos altas", escreveu o profissional em seu perfil no Twitter. "Neste ambiente, com uma comunicação bem feita e um processo gradual, o mercado se sente confortável em tomar risco. Isso seria testado na eventualidade de números muito mais altos de inflação, que levariam a uma mudança radical de postura do Fed."
Além disso, restam as questões locais a serem resolvidas, em que pese a aparente reaproximação dos poderes esta semana. Um deles é o temor em relação à crise hídrica. “Existe esse receio que o BC suba muito os juros para controlar a inflação ano que vem e, com isso, possa matar o crescimento de 2022, que já não parece muito promissor. Principalmente pensando como o governo e Congresso vão reagir, dado que é ano eleitoral”, resume um experiente participante de mercado.