O aguardado discurso do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, acabou não concretizando os maiores temores enxergados pelos participantes de mercado. A fala do dirigente afastou o risco de uma antecipação da redução do volume de compras de ativos, o que fez a moeda americana perder força contra praticamente todas as demais divisas globais.
No Brasil, a moeda americana operava em baixa de 1,03% por volta das 13h40, a R$ 5,2024, após bater a mínima intradiária de R$ 5,1914.
Em sua fala, Powell reiterou que os dirigentes do Fed têm um plano de começar a reduzir os estímulos este ano — atualmente, o BC americano compra US$ 120 bilhões por mês em ativos. No entanto, ponderou que, apesar do progresso do mercado de trabalho americano, o novo surto de covid, provocado pela variante delta do coronavírus, “confunde as perspectivas”.
Powell ponderou ainda que, embora o nível da inflação satisfaça o necessário para iniciar o processo de retirada dos estímulos, ela continua com característica de temporária, com algumas pressões de preços se dissipando em determinados setores. “Um aperto prematuro da política monetária poderia ser especialmente danoso”, disse o dirigente.
"O discurso do Powell acamou os ânimos do mercado, ao sinalizar que o Fed permanecerá paciente enquanto tenta levar a economia de volta ao nível de pleno emprego. Não houve antecipação de qualquer detalhe do ritmo do 'taper', o que estava no radar do mercado. E isso fez o humor melhorar", avalia Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos. "Uma melhora do humor nos EUA impacta diretamente os emergentes. Para nós, é bom porque ganhos uma janela maior para atrair investimento nesse segundo semestre."
Vale pontuar que Powell não tirou de curso o anúncio do 'taper', apenas não o anunciou esta manhã, como setores do mercado temiam. "Em seu discurso, Powell reafirmou que o Fed está chegando perto da decisão de reduzir os estímulos, em linha com a comunicação das últimas semanas. Ainda esperamos uma decisão sobre o assunto no quarto trimestre", diz o economista sênior do Commerzbank Christoph Balz.
Para o diretor de investimentos da TAG, Dan Kawa, a melhora do humor dos mercados mesmo diante da confirmação da rota em direção à redução do QE pode ser explicada pelo fato de que este entende que o os juros de equilíbrio de longo-prazo sejam baixos. "Assim, quanto antes o Fed normalizar a política monetária, menos espaço terá para fazê-la, ou seja, os juros não poderão ser elevados a taxas muitos altas", escreveu o profissional em seu perfil no Twitter. "Neste ambiente, com uma comunicação bem feita e um processo gradual, o mercado se sente confortável em tomar risco. Isso seria testado na eventualidade de números muito mais altos de inflação, que levariam a uma mudança radical de postura do Fed."