O esperado acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia enfrenta resistência, especialmente do setor agrícola europeu, o que tem dificultado sua assinatura. Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha declarado que espera a formalização do pacto até o fim deste ano, a negociação continua sendo afetada por críticas vindas de empresas e representantes da Europa, como Danone, Carrefour e Tereos, que questionam as condições de concorrência com os produtores europeus.
Recentemente, Olivier Leducq, CEO da Tereos, criticou o acordo, alegando que ele prejudicaria os agricultores da Europa. Embora tenha recuado das declarações, Leducq mantém a posição de que a concorrência com o Mercosul não seria justa. Por outro lado, Alexandre Bompard, CEO do Carrefour, anunciou a decisão de não comercializar carne proveniente do bloco, o que gerou boicote de frigoríficos brasileiros. No entanto, o Carrefour acabou voltando atrás, lamentando a postura adotada.
De acordo com o pesquisador da FGV, Leonardo Munhoz, o grande obstáculo para a assinatura do acordo é o setor rural europeu, especialmente na França, onde a proteção a esse setor é historicamente forte devido aos subsídios. A maior competição externa representada pelo acordo gera insegurança para os produtores da Europa. Munhoz afirma que as críticas de empresas francesas sobre as condições ambientais e sanitárias no Brasil não têm embasamento técnico e são, na verdade, estratégias protecionistas.
O professor Leandro Gilio, do Insper, destaca que o agro brasileiro segue padrões internacionais rigorosos de qualidade e sanidade, com destaque para o Código Florestal Brasileiro, considerado um dos mais restritivos do mundo. Já Daniel Vargas, da FGV, argumenta que o Brasil se destaca em sustentabilidade, com uma matriz energética renovável de 81% e grande parte do território preservado em vegetação nativa.
Ambos os especialistas concordam que, embora o Brasil ainda tenha pontos a melhorar, como o combate ao desmatamento ilegal, o agronegócio brasileiro está em conformidade com exigências globais e tem muito a ganhar com a concretização do acordo, que beneficiaria tanto os produtores brasileiros quanto as empresas europeias.