A melhora do humor global vista nos últimos dias cedeu novamente lugar à cautela no pregão dessa quinta-feira. Diante da proximidade com o aguardado simpósio anual de Jackson Hole - mais especificamente, o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell -, os ativos de risco cederem em bloco na sessão, devolvendo parte dos ganhos registrados ao longo desta semana.
No Brasil, a moeda americana fechou alta de 0,87% nesta quinta-feira, negociado a 5,2566. A alta de hoje encerra uma sequência de quatro quedas consecutivas do ativo, período no qual caiu 3,89%. Ainda assim, ele acumula baixa de 2,30% na semana.
Powell discursa amanhã às 11h (de Brasília). Muito se especulou sobre se ele usaria a ocasião, como outros presidentes do Fed o fizeram no passado, para anunciar importantes mudanças na trajetória da política monetária do BC americano. Essa conversa (ou esse receio) cresceu após um dado mais forte que o esperado do mercado de trabalho americano em julho e também após dirigentes do Fed aludirem à proximidade do início da redução do volume de compras do QE (programa de compras de ativos) ainda este ano na ata da última reunião. No entanto, tem oscilado desde então, refletindo dados mais tépidos da economia local.
Para José Faria Junior, diretor da WIA Investimentos, a ressurgência dos casos de covid-19 nos Estados Unidos e outros dados antecedentes, como os PMIs, mostrando que o pico do crescimento econômico pode ter ficado para trás, deve tirar a urgência em anunciar tão logo um redução do ritmo de compras de ativos. No entanto, seria um simples adiamento em favor da reunião do Fed de setembro, quando os dirigentes estarão melhor munidos para decidir qual caminho adotar. Daqui para lá, sai uma nova rodada de dados de emprego e inflação, bem como termina a concessão de auxílios no país.
“Então, eu vejo o dólar perder alguma força, mas não deve cair muito. O índice DXY não deve ficar abaixo de 92 pontos”, avalia Junior. No horário de fechamento, o índice subia 0,23%, aos 93,04 pontos. Com isso, o profissional entende que o dólar não deve ter força suficiente para cair sustentavelmente abaixo de R$ 5,15 no Brasil. “Nessa região dos R$ 5,20, já vejo uma oportunidade de compra”, diz.
No fim da manhã de hoje, outro fator que ajudou a elevar a cautela foi a entrevista do presidente do Fed de St. Louis, James Bullard. À CNBC, o dirigente declarou que a inflação mais alta que o esperado deve levar o BC a reduzir o volume de compras do QE em breve.
"Dissemos que permitiríamos que a inflação ficasse acima da meta por algum tempo, mas não muito acima da meta", afirmou o dirigente. "Então, por essa razão, acho que queremos continuar diminuindo [os estímulos]. Ter a redução finalizada até o final do primeiro trimestre do próximo ano."
Com o cenário externo dominando a dinâmica da formação de preço no câmbio, questões domésticas ficaram em segundo plano. Entre os destaques, o evento Expert XP, que reuniu o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Durante a manhã, Fux defendeu a criação de uma fórmula para o pagamento dos precatórios que levaria em conta a data de promulgação do teto de gastos.
Tal critério seria capaz de reduzir de R$ 89 bilhões para R$ 50 bilhões o montante a ser pago este ano em precatórios. Segundo apurou o Valor, a medida havia sido discutida com a Economia e tem o apoio de Guedes.