A demora na venda das refinarias da Petrobras está associada ao ciclo de baixa no mercado de refino no mundo todo, segundo o gerente de análise de preços de petróleo e perspectivas regionais da consultoria S&P Global Platts, Lenny Rodriguez.
“O processo para vender essas refinarias levou muito mais tempo do que a Petrobras desejava. Um dos grandes desafios que a companhia enfrentou foi o ciclo de baixa no mundo para o refino, que está com margens baixas. Vimos muitas refinarias fechando as portas, inclusive nos Estados Unidos. Mas isso também pode ser uma oportunidade quando os ativos entrarem num ciclo de alta”, afirmou em evento on-line promovido pela consultoria na manhã desta quinta-feira (26).
A petroleira brasileira pretende vender, ao todo, oito refinarias. Segundo Rodriguez, a expectativa é que a partir do próximo mês a primeira unidade vendida pela estatal, a Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, passe a ser operada pelo grupo Mubadala, que comprou o ativo por US$ 1,65 bilhão. A venda da segunda unidade, a Refinaria Isaac Sabbá (Reman), no Amazonas, foi anunciada ontem. O ativo amazonense foi vendido à Ream Participações, constituída por sócios da distribuidora Atem, por US$ 189,5 milhões.
Perguntado sobre a possibilidade de formação de monopólios regionais a partir da compra das refinarias, Rodriguez lembrou que há outros países que têm convivência de empresas estatais e independentes nesse segmento, como a China e a Índia.
Para o consumo de combustíveis no Brasil, a Platts projeta recuperação para este ano, com projeção de grande aumento na demanda por diesel. Segundo a consultoria, o consumo de diesel deve crescer em 65% em 2021 na comparação com 2020 e registrar alta de 55% em relação a 2019, antes da pandemia.
“Com bons números na demanda [por combustíveis], tem havido uma reação positiva no refino no Brasil. Apesar de algumas manutenções em refinarias nos últimos meses, os níveis de processamento já estão altos novamente e devem continuar assim até o final do ano”, comentou Rodriguez.
Já no setor de exploração e produção, a Platts destaca a atratividade do país por investimentos. Dados da consultoria mostram que o Brasil lidera as decisões finais de investimentos para novos projetos de exploração e produção de petróleo e gás em 2021, com seis projetos sancionados este ano até o momento.
Segundo o gerente de análise de produção da consultoria, Ashutosh Singh, o país é um dos principais destinos para investimentos em projetos de águas profundas no mundo, junto com a Guiana e o Golfo do México. Singh destacou o momento favorável das regulações no país para o setor.
“Vemos uma forte alocação de capital no Brasil, o país está numa posição única para o crescimento da produção por alguns anos. Isso está transformando o Brasil num exportador [de petróleo] muito atraente”, afirmou.
O analista lembrou que as novas plataformas na costa brasileira têm conseguido alcançar estabilidade na produção em um ano após a entrada em operação, mais rapidamente que os dois anos que os projetos levavam para alcançar o platô antigamente.
As projeções da Platts são de que o preço internacional do barril de petróleo deve ficar próximo aos US$ 70 ao final deste ano e por volta dos US$ 65, em média, em 2022. Singh explicou que esse patamar de preços deve favorecer a aprovação de novos projetos no mundo todo, depois da queda no ano passado em meio à pandemia.
“Em 2020, vimos uma queda grande nas sanções, mas este ano há uma recuperação e vamos ver mais projetos em fase final de aprovação este ano e no próximo”, disse.