A locadora de automóveis Movida voltou a se manifestar contrária à compra da Unidas pela Localiza. Em parecer técnico encaminhado à Superintendência-Geral (SG) do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no último dia 25, a equipe técnica contratada pela Movida argumenta que além de serem as duas maiores empresas do mercado de aluguel de veículos, Localiza e Unidas são também as rivais mais próximas e de menor preço no mercado nacional – entre 11% e 14% menor do que a Movida, que é terceira colocada.
A conclusão do parecer é que a eliminação da rivalidade entre as duas teria potencial de impulsionar os preços ao consumidor final. Este é o quarto parecer técnico da terceira maior locadora do país contrário ao negócio. Na semana passada, matéria publicada no Valor apontou que o negócio tende a ser rejeitado pelo Cade. O acordo é avaliado desde fevereiro pelo agente antitruste.
Além da Movida, Fleetzil (do Grupo Volkswagen), Ouro Verde e Ald Automotive, subsidiária do grupo francês Société Générale, entraram como terceiras interessadas no processo que corre no Cade levantando preocupações concorrenciais.
No novo parecer, a Movida argumentou que Localiza e Unidas são concorrentes muito próximas e que ambas têm praticado preços médios em torno de 11 % e 14% inferiores ao seu próprio preço. No mercado, a Movida se posiciona com carros de maior valor e, por isso, acaba cobrando um ticket médio maior.
“Isso significa que um ato de concentração envolvendo as empresas Localiza e Unidas implicaria na eliminação de uma opção concorrencial extremamente importante para os consumidores que privilegiam o atributo preço ao locarem veículo”, diz o documento.
Na argumentação, a equipe da Movida diz que um ato de concentração envolvendo duas empresas estrategicamente próximas tende a gerar pressões de preços muito maiores que de um ato de concentração envolvendo duas empresas com posicionamentos estratégicos distantes.
Procurada, a Localiza disse que apresentou ao Cade informações sobre o negócio e estudos sobre a dinâmica do setor. “Eventuais esclarecimentos sobre a operação estão sendo discutidos com a autarquia”, disse, em nota.
O negócio da Unidas e Localiza tem movimentado o mercado. Deixando as críticas e defesa dos próprios interessados (concorrentes e Localiza e Unidas), as sinalizações no mercado até pouco tempo atrás eram de que o Cade aprovaria o negócio, mas com remédios. A dúvida era o quão amargo seria esse remédio. A visão de que o negócio poderia sair era tão forte que os papéis das empresas passaram a ser impactados positivamente na bolsa.
Em maio, entretanto, a SG apontou preocupações de concentração elevada no mercado de aluguel de veículos diante da proposta de incorporação das ações da Unidas pela Localiza. Com isso, a SG declarou complexidade sobre o tema, o que, na prática, autoriza que a SG requeira a extensão do prazo de análise da operação, de 240 para 330 dias. O prazo expira em janeiro de 2022.
No documento, a Superintendência-Geral destacou que vai aprofundar a análise sobre pontos como o possível aumento do poder de barganha na aquisição de veículos novos pela Localiza e Unidas após a incorporação, assim como os riscos à entrada de novos competidores.
Já na semana passada, matéria publicada no Valor apontou que o relatório técnico do órgão antitruste, já bastante adiantado, sugere a impugnação do negócio, que criaria uma gigante com valor de mercado de mais de R$ 50 bilhões.
Nos corredores do Cade, a visão de antes apontava para um mercado com poucas barreiras de entrada, o que caminharia a avaliação final para um veredicto favorável. Entretanto, ao se debruçar sobre acordos de exclusividade firmados com outras empresas do ramo, a equipe técnica do Cade enxergou riscos sérios à competitividade.
Ainda conforme a matéria, as equipes do Cade não estariam sendo capazes de encontrar “remédios” (compensações) na direção de uma aprovação do acordo.