24/08/2021 às 19h00min - Atualizada em 24/08/2021 às 19h00min

Juros médios e longos recuam com fala de Lira sobre teto de gastos

As declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), dadas em evento do mercado financeiro, ressaltando o compromisso do Congresso Nacional com o teto de gastos, e o tom ameno observado entre os ativos de risco no exterior levaram os juros futuros a uma forte queda nesta terça-feira (24).

As baixas mais pronunciadas foram vistas nas parcelas intermediária e longa da curva a termo, onde rondaram os 20 pontos-base (0,2 ponto percentual) em comparação ao ajuste anterior. Assim, embalados por fatores domésticos e globais, os juros desses trechos fecharam perto das mínimas do dia.

Ao fim do pregão regular, às 16h, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 recuou de 6,71% no ajuste de ontem para 6,69% e a do DI para janeiro de 2023 cedeu de 8,49% para 8,41%. Já a do contrato para janeiro de 2025 tombou de 9,74% para 9,57%, após mínima a 9,55%; e a do DI para janeiro de 2027 despencou de 10,19% para 9,98%, depois de bater o menor nível do dia, a 9,96%.

“A curva de juros cedeu bastante com o ‘risk-on’ externo, commodities subindo e CDS [indicador de risco-país] de países emergentes caindo”, nota Rian Tavares, head de renda fixa da Assessoria XP. “No Brasil, o desempenho acima da média dos pares se dá pelo exagero dos movimentos das taxas nas últimas sessões e falas de Lira sobre os precatórios ficarem dentro do teto, atenuando a tensão fiscal”, diz o profissional.

Em participação on-line na Expert XP, evento organizado pela XP Inc, Lira ressaltou o compromisso do Congresso Nacional com o cumprimento do teto de gastos, cuja possível flexibilização ou burla é recebida com preocupação pelos agentes de mercado. “O Congresso nunca deu uma vírgula de possibilidade de que pudéssemos romper o teto de gastos”, disse Lira. “Não houve e não haverá por parte do Congresso sinal de rompimento com a responsabilidade fiscal.”

De acordo com Vinicius Alves, estrategista da Tullett Prebon, as falas de Lira contribuíram para levar tanto o dólar comercial quanto os juros dos DIs às mínimas do dia, mas o ambiente já era favorável à retirada do prêmio de risco desses mercados em razão da operação positiva dos ativos de risco no exterior.

“Também podemos colocar a ‘culpa’ da performance de hoje na volatilidade dos ativos brasileiros. Ontem foi um dia negativo, no geral, então, acontece um pouco de ‘payback’ agora”, explica.

Outro fator que permitiu que as taxas futuras não fossem pressionadas durante o pregão desta terça foi a atuação do Tesouro Nacional, que realizou um leilão enxuto de Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-Bs), tendo publicado o edital da oferta antes da abertura dos negócios de modo a apaziguar os agentes financeiros.

No momento em que as taxas de retorno das NTN-Bs mais longas, para 2050 e 2055, se aproximam do patamar simbólico de 5% no mercado secundário, o Tesouro ofertou apenas 150 mil papéis, distribuídos igualmente entre os vencimentos de agosto de 2026, agosto de 2030 e maio de 2055. Os títulos foram absorvidos integralmente pelo mercado.

Cabe pontuar que as taxas de longo prazo, como as do DI para janeiro de 2027, voltaram a operar ligeiramente abaixo dos dois dígitos nesta terça, após terem fechado acima do nível de 10% em todos os pregões desde 17 de agosto, em meio à deterioração do noticiário sobre as contas públicas.

Mas, de forma geral, os juros de mercado de longo prazo ainda permanecem em patamares elevados: as taxas de oito e dez anos, referentes aos DIs para janeiro de 2029 e janeiro de 2031, seguem acima do nível simbólico, e os juros de médio prazo vêm se avizinhando dos dois dígitos.

Nesse sentido, o Bank of America recomenda que os investidores ainda apostem em uma maior inclinação da curva dos DIs, isto é, uma alta proporcionalmente maior dos juros longos em comparação aos curtos. “É a maneira mais segura de se posicionar agora”, dizem os profissionais do banco em relatório, já que “seria um movimento defensivo antes de uma potencial inclinação da curva dos Estados Unidos”.

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