23/08/2021 às 19h00min - Atualizada em 23/08/2021 às 19h00min

Pressionado pelos riscos domésticos e pela queda da Vale, Ibovespa recua 0,49%

O Ibovespa voltou a se descolar do exterior e encerrou o pregão em queda, pressionado novamente pelos riscos domésticos e pela queda nas ações da Vale. O principal índice da bolsa local encerrou a segunda-feira (23) recuou 0,49%, fechando o pregão aos 117.471,67 pontos.

Nas mínimas do dia, o Ibovespa marcou 117.062 pontos. O giro financeiro agregado na bolsa brasileira foi de R$ 25,97 bilhões. Em Nova York, os índices voltaram a anotar novos recordes de fechamento e o S&P 500 fechou em alta de 0,85%, aos 4.479,53 pontos. Na Europa, o Stoxx 600 avançou 0,66%, a 471,88 pontos.

Do lado negativo, as ações da Vale ON caíram 1,38%, enquanto os papéis da Ambev ON perderam 1,03%. Petrobras ON e Itaú PN subiram 3,35% e 1,07%, respectivamente.

O agravamento da crise institucional brasileira e a queda da popularidade do presidente Jair Bolsonaro são interpretadas pelos investidores, por um lado, como ameaças à aprovação de reformas e, por outro, à manutenção de uma postura austera do ponto de vista das contas públicas. Assim, o Ibovespa retomou, hoje, a tendência negativa observada no início da semana passada e fechou o dia em queda, na contramão da alta expressiva dos principais índices acionários dos mercados desenvolvidos.

O mercado externo recebeu impulso da notícia de que não houve transmissões locais de covid-19 na China ontem pela primeira vez desde o mês anterior. Além disso, reguladores americanos da Food and Drug Administration (FDA) emitiram uma autorização completa para a vacina da Pfizer e BioNTech no país, fato que, segundo analistas, pode reduzir a desconfiança da população nos imunizantes e estimular a vacinação em massa nos Estados Unidos.

Os ventos favoráveis à tomada de risco, no entanto, não se espalharam pelo Brasil. Diante do novo recrudescimento das relações entre os poderes da República e das incertezas acerca da trajetória dos gastos, investidores voltaram a manifestar desconforto com o cenário local, o que ficou novamente refletido na alta da das taxas de juros de mercado, esfriando o interesse por ativos de risco.

“O problema dos precatórios teve uma resposta muito ruim, pela ótica da segurança jurídica. No fim das contas, é o Tesouro do outro lado do balcão dizendo que não vai honrar um compromisso legítimo no prazo, garantido pela Justiça”, afirmou o gestor da Arena Investimentos, Mauricio Pedrosa.

“Depois do ‘devo, não nego, pago assim que puder’ [frase dita pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, no início do mês] a curva de juros subiu muito. As dúvidas em relação ao encaminhamento da questão fiscal em 2022 vêm fazendo preço”, afirma o profissional.

Ele aponta que, com a inclinação acentuada da curva de juros local, setores sensíveis às altas nas taxas já vêm demonstrando perdas robustas e o exemplo mais claro é o das construtoras. No pregão de hoje, MRV ON caiu 2,88%, Eztec ON perdeu 2,48% e Cyrela ON fechou em queda de 2,00%. No mês, as perdas acumuladas para os papéis são de 12,90%, 8,47% e 12,85%, respectivamente.

Para a sócia da HCI Invest, Maria Cândida Naegele, os desafios fiscais e políticos no cenário local acabam direcionando o fluxo de investimentos para companhias maiores e mais capitalizadas da bolsa local, o que acaba penalizando ações menos líquidas.

“Enquanto não derem um caminho claro para o investidor, ele acaba drenando o dinheiro de companhias menores e direcionando para as blue chips. Pode ser que, nesse momento [de incerteza em relação aos preços do minério], esse fluxo não vá para a Vale, mas acaba indo para setores de bancos e mesmo para a Petrobras”, disse Maria Cândida.

Apesar da dinâmica negativa do mercado local de renda variável, instituições financeiras e participantes do mercado seguem destacando os bons fundamentos das empresas locais. “Vemos os resultados do segundo trimestre como sólidos, com 71% das empresas do Ibovespa sob nossa cobertura reportando Lucros Operacionais (EBITDA) em linha ou acima do que esperávamos. Além disso, 56% das empresas que divulgaram balanços superaram nossas expectativas, 15% foram em linha e 29% vieram abaixo”, afirmam os estrategistas Fernando Ferreira e Jennie Li.

Apesar dos resultados fortes, eles apontam que a reação nos preços das ações foi negativa de forma geral. “As empresas que surpreenderam as estimativas do consenso quanto aos Lucros Operacionais e Receita tiveram um desempenho médio de -1,0% e -1,3%, respectivamente, um dia depois de cada divulgação. Enquanto isso, as companhias que desapontaram as expectativas foram mais penalizadas, com uma média de desempenho de -1,7% e -2,4% para os mesmos indicadores”, relatam os profissionais.

“O índice Ibovespa, por sua vez, registrou uma queda de 5,7% desde o início da temporada de balanços, pressionado por um aumento de incertezas políticas e riscos fiscais desde então”, concluem.

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