23/08/2021 às 18h00min - Atualizada em 23/08/2021 às 18h00min

Juros futuros têm forte alta com tensões políticas e riscos fiscais no foco

No momento em que a temperatura continua elevada no cenário político, diante da escalada nas tensões entre Executivo e Judiciário, as perspectivas em relação à trajetória das contas públicas permanece nublada, o que deu aval a um novo dia de forte alta nos juros futuros. As taxas de longo prazo voltaram a ser as mais afetadas pelo movimento de abertura da curva de juros, com alta de mais de 20 pontos-base durante boa parte do pregão.

Assim, no fim da sessão regular, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 passava de 6,70% no ajuste anterior para 6,715%; a do DI para janeiro de 2023 subia de 8,40% para 8,515%; a do contrato para janeiro de 2025 avançava de 9,56% para 9,74%; e a do DI para janeiro de 2027 escalava de 10,00% para 10,18%.

O estresse voltou a dar o tom do mercado de juros nesta segunda, após duas sessões seguidas em que se acomodaram em queda, num movimento de correção parcial. “No geral, os próximos 12 a 14 meses serão de um cenário bastante negativo e não há, no momento, nenhuma perspectiva de melhora”, observa Luís Felipe Laudisio, trader de renda fixa da Renascença. “O mercado, assim, segue bastante posicionado nas NTN-Bs e, como hedge, adotam posições tomadas [aposta na alta das taxas] nos DIs”, explica.

Na sexta-feira, quando os negócios já haviam terminado, o presidente Jair Bolsonaro entregou ao Senado um pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o que escalou ainda mais as tensões entre os Poderes. Além disso, o presidente sugeriu que um novo pedido de impeachment pode ser protocolado em relação ao ministro Luís Roberto Barroso. Cabe lembrar, ainda, os ruídos em torno da autonomia do Banco Central, após a agência “Associated Press” ter relatado que Bolsonaro teria se arrependido do projeto.

Para Paulo Nepomuceno, trader da mesa de derivativos da Terra Investimentos, a piora nas condições institucionais significa uma redução nas chances de aprovação da agenda de reformas no Congresso Nacional, o que tem entrado com maior força nos preços de mercado. “A perspectiva de avanços nessa frente é baixa. E, quanto mais o tempo passa, o mercado se aflige mais com a possibilidade de o teto ser flexibilizado para dar espaço a políticas sociais de cunho eleitoral”, afirma o profissional.

O Citi mostra ceticismo quanto ao progresso da pauta reformista no Legislativo. De acordo com analistas do banco americano, os riscos de um enfraquecimento ainda maior da coalizão do governo no Congresso reduzem as chances de avançar com as reformas.

Enquanto isso, “o comentário sobre a autonomia do BC pode criar outro obstáculo para sustentar as expectativas de inflação de 2022, que estão acima da meta, e, consequentemente, aumentar o trabalho da política monetária para dissipar as pressões inflacionárias em curso”, escrevem os profissionais da instituição financeira em relatório.

Internamente, o destaque da agenda ficou por conta do Boletim Focus, que mostrou novo avanço nas projeções de inflação de médio prazo. A mediana das projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2022 passou de 3,90% para 3,93%.

José Antonio Pena, economista-chefe da Porto Seguro Investimentos, projeta que o IPCA deve fechar o ano que vem em 4,20%, forte desaceleração em relação aos 7,30%-7,40% esperados pela instituição em 2021. “Claro que essa desaceleração é, em parte, explicada por uma alta de juros”, diz ele, citando a estimativa da Porto Seguro de Selic de 7,5% ao fim de 2021 e 2022, mas com viés claro de alta. “De outro lado, também achamos que, no geral, 2022 não terá repetição dos choques de oferta, o que deve acomodar a inflação.”

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