24/06/2024 às 07h51min - Atualizada em 24/06/2024 às 07h51min

Oportunidades do crédito de carbono na pecuária

O protagonismo do Brasil no mercado de créditos de carbono voluntário

por Beatriz Pressi, membro da equipe executiva da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável
Foto: MBPS
A busca mundial para cumprir as metas de redução de emissão de gases de efeito estufa (GEE) incentivou a colaboração entre os países, criando o mercado voluntário de Carbono. Neste mercado, empresas e instituições que desejam compensar as emissões de GEE podem negociar e adquirir créditos de carbono; isto é, quando não há obrigações legais e os agentes o fazem pela responsabilidade socioambiental, pela antecipação regulatória e pela valorização da imagem institucional, seja por parte de investidores, seja por demanda dos consumidores. Neste cenário de assuntos climáticos, o Brasil se destaca e tem grande notoriedade no mercado de carbono, justamente por possuir grande potencial de gerar créditos de carbono por meio de soluções naturais . 

A evolução mundial do mercado de carbono avança rapidamente e segundo a consultoria McKinsey, poderá chegar a US$ 100 bilhões em 2030. Em relação ao mercado voluntário de carbono, este mesmo relatório estimou que em 2021 no Brasil houve a movimentação de US$ 25 milhões. Com o mercado regulado, que é o segundo tipo de mercado de crédito de carbono existente, além do mercado voluntário, é que estes números podem ser multiplicados. É um cenário em que as empresas são obrigadas a negociar entre si devido a regulamentação vigente no país, ou seja, os governos estabelecem as metas de redução de emissões: aqueles que ultrapassarem a meta obrigatoriamente precisam comprar créditos, já quem emite abaixo da meta podem vender os créditos excedentes.

O potencial de mercado de carbono no Brasil é enorme, a demanda por créditos voluntários no Brasil pode chegar até US$ 2,3 bilhões, mas que ainda tem uma oferta de créditos de carbono muito baixa: emitimos menos de 1% desse potencial anual, segundo estimativas do relatório realizado pela McKinsey. Ou seja, somos uma potência ambiental que ainda se encontra muito abaixo das expectativas, mas que possui protagonismo e condições privilegiadas de desenvolvimento desse mercado, concentrando 15% do potencial global de oferta de soluções naturais .

Oportunidade para o setor agropecuário

É importante relembrar que o Brasil é um caso único de equilíbrio entre preservação e produção agropecuária no mundo e que as oportunidades se relacionam diretamente com seus números: É um país com mais de 66% do território nacional destinada à vegetação nativa e área preservada e com mais de um terço do país preservado dentro dos imóveis rurais (Embrapa ). E ainda segundo o IBGE, a extensão de terra preservada no Brasil é maior que a área da agropecuária: o Brasil dedica 366 milhões de hectares de área preservada e 352 milhões de hectares voltados à agropecuária.

A produtividade e sustentabilidade caminham de mãos dadas, e uma das diversas formas de se evidenciar isso é pelo indicador poupa-florestas, que aponta a proporção de terra que o país consegue poupar mantendo ou aumentando a produção agropecuária. O Brasil lidera o ranking dos países comparados, com o índice poupa-florestas de 43,2%. Este fato se deve à adoção de tecnologias como a tropicalização dos cultivos, fixação biológica de nitrogênio, engenharia genética de plantas e animais e técnicas de intensificação, como ILPF. O Brasil também lidera o indicador considerando apenas a pecuária, apresentando o melhor resultado produtivo , seja em rendimento quanto em peso de carcaça. Em termos de produção por unidade de emissão agropecuária, um quilograma de alimento produzido gera menos emissões de GEE do que no passado (Ipea, 2022 ).

Neste cenário as oportunidades do país não poderiam ser diferentes: Como já evidenciado , o Brasil está em 1º lugar entre os países que podem gerar lucro com práticas agrícolas sustentáveis, seja por projetos de agricultura, de reflorestamento e de combate ao desperdício de energia. Dentre os setores que geram créditos de carbono no mercado voluntário, o produtor pode se beneficiar dos seguintes tipos de créditos: Troca da energia fóssil por fontes renováveis, desmatamento evitado e recuperação de solos .

Além de gerar valor financeiro com os ativos ambientais através de créditos de carbono, concomitante o produtor rural desenvolve benefícios socioambientais. Há três formas de gerar créditos de carbono “dentro da porteira”: optando pela preservação dos milhões de hectares de florestas e vegetação nativa que podem ser legalmente desmatadas, mas que ao preservá-lo, evita-se a emissão de carbono, é este excedente florestal conservado que pode ser convertido em ativo financeiro. Por outro lado, há milhões de hectares de áreas com algum nível de degradação que podem ser regeneradas por meio de sistema de produção integrados e intensificados que removem carbono, regenerando os solos e aumentando a produtividade por hectare. outra forma de gerar crédito de carbono é através do uso biodigestores. A regeneração das áreas pode ser feita pela melhoria de pastagens com sistemas integrados (ILP e ILPF), sendo um processo que aumenta a produtividade e possibilita o sequestro de carbono da atmosfera no solo, sendo um excelente indicador de sustentabilidade.

O crédito de carbono como fonte de renda adicional ao produtor

O produtor pode desenvolver projetos de escopo de Agricultura, Floresta e outros Usos da Terra (AFOLU) para gerar crédito de carbono, com empresas especializadas que desenvolvem projetos, abrindo as porteiras para este mercado global. Este escopo setorial tem um potencial de redução anual de emissões de GEE de até 8,3 milhões de tCO2e, representando 56% do total, seguido pela energia (37%) e gestão de resíduos (7%) (Verra, 2021 ). Este mercado já é uma realidade que compõe uma agenda composta por maior produtividade, carbono no solo e crédito de carbono em que todos ganham. 

O maior desafio do setor agropecuário é a comunicação das informações, uma vez que o setor tem potencial e faz parte da solução. Diante do exposto, o mercado de carbono representa a proteção da biodiversidade, a segurança alimentar e proteção de recursos hídricos, ou seja, é mais que um negócio. O produtor rural e o setor agropecuário se beneficiam e pode ser recompensado neste mercado de carbono, lembrando que este mercado é apenas uma parte e o produtor pode agregar outros pagamentos por serviços ambientais (PSA). O retorno financeiro se torna indireto, funcionando como uma remuneração aos produtores que adotam boas práticas, resultando em menor emissão de GEE e aumento do carbono no solo. O ganho maior a longo prazo está vinculado com o aumento da fertilidade do solo, maior acúmulo de água e menos perdas por erosão, em resumo, maior economia de insumos e maior aumento da eficiência produtiva. É uma agenda em que todos ganham.

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