O mau humor dos mercados globais mantém em alta a procura pelo dólar nesta quinta-feira. No Brasil, ainda que as preocupações latentes com a dinâmica fiscal e política continuem de pé, o mercado de câmbio encontra algum espaço para moderação do movimento.
Por volta das 13h, a moeda americana subia 0,51%, a R$ 5,4030, após tocar R$ 5,4555 logo nos primeiros minutos de negociação. No mesmo horário, o dólar subia 0,34% frente ao peso mexicano, 1,34% ante o rand sul-africano e 0,46% contra o rublo russo.
O alívio relativo no câmbio acompanhou certa melhora nas bolsas americanas, que também se refletiu na bolsa brasileira e na curva de juros. Ainda assim, a cautela impera, com as commodities perdendo em bloco - os contratos futuros de petróleo ainda sendo negociados com queda superior a 3% - e o rendimento da T-note de 10 anos cedendo a 1,242%.
No Brasil, a combinação de dificuldade do governo em passar matérias de interesse no Congresso, pressões sobre a geração de energia elétrica e receio de que a discussão sobre o bolsa família turbinado possa levar a uma deterioração adicional da perspectiva fiscal tem imposto aos ativos domésticos, nota o Citi.
“O movimento de ontem parece ter sido motivado por ordens de stop loss tanto na curva de juros quanto no câmbio, após este ter rompido a resistência de R$ 5,30 e R$ 5,33”, dizem os estrategistas do banco americano. “Acreditamos que, caso outras sessões sigam na mesma toada, o Banco Central poderá voltar a intervir para evitar que o pânico se instale.”
Em discurso para evento do Conselho das Américas, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, reconheceu que os ruídos recentes estão levando os agentes a reduzir a perspectiva de crescimento em 2022. "Estamos observando isso, é importante entender esse processo", disse o dirigente, reiterando o compromisso em levar à meta a inflação em 2022.
Campos notou ainda que, apesar da melhora dos números fiscais, o ruído "parece ser predominante", mas pode ser reduzido à medida em que o governo explicar como funcionará o o novo benefício. "As pessoas estão conectando as eleições, ou o desejo do governo de produzir algum programa social melhor, com os projetos [econômicos]", notou.
Uma das casas que recentemente rebaixou sua projeção para 2022, de 1,8% pra 1,5% , a TS Lombard nota que a perspectiva se mostra cada vez mais nublada dados os crescentes riscos políticos e fiscais em ano de eleição.
"O presidente Jair Bolsonaro continua a atacar as instituições democráticas em um esforço para manter engajada sua base eleitoral, ao passo que o governo defende a alta dos gastos sociais para elevar as chances de reeleição", diz a consultoria em relatório publicado esta manhã. "O presidente dificulta a tarefa do BC de colocar os juros na meta, o que significa que as taxas deverão continuar acima do nível neutro por mais tempo."