O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou que o banco pretende fazer o IPO da sua gestora no início do próximo ano. Segundo ele, a companhia já está toda estruturada, mas ainda depende de aprovação do Banco Central, que é esperada para este mês. Após esse trâmite, são cerca de 20 dias para migrar todos os fundos para a nova empresa, o que deve ocorrer em setembro, e é preciso pelo menos um trimestre completo em operação para poder apresentar um balanço ao mercado.
Guimarães afirmou que a Caixa Asset tem crescido fortemente, com 426 fundos e R$ 693,9 bilhões em ativos sob gestão, o que lhe dá a posição de quarta maior gestora do país. “A Asset ficará só com os fundos líquidos, e os fundos problemáticos, que são alvo de discussão judicial por problemas de gestões anteriores, continuarão com a Caixa.”
Segundo ele, como contrapartida para abrir novas agências em cidades com mais de 40 mil habitantes, a Caixa está negociando com as prefeituras e exigindo que elas transfiram para o banco a administração de seus fundos e das folhas de pagamento. Assim, isso deve gerar um aumento de “dezenas de bilhões de reais” nos fundos da Caixa Asset.
O outro IPO mais adiantado é de bandeira de cartões Elo, na qual a Caixa tem uma fatia de 41,4% e divide o controle com Bradesco e Banco do Brasil. “Tivemos um aumento de participação na Elo e estamos estudando com os sócios uma abertura de capital”, disse Guimarães. Conforme o Valor já noticiou, a oferta deve ocorrer ainda este ano, nos Estados Unidos.
Guimarães explicou que a fatia da Caixa na Elo foi transferida da CaixaPar para a Caixa Cartões, que é outra subsidiária para a qual o banco estuda realizar um IPO. O executivo apontou que essa oferta só deve ocorrer após a operação da Elo e que a Caixa Cartões precisa de um pouco mais de tempo para amadurecer algumas operações novas, como a parte de adquirência, cartões pré-pagos e fidelidade. “É importante que essas operações amadureçam um pouco, porque senão a Caixa Cartões fica muito dependente da Elo.”
Sobre um eventual IPO do banco digital da Caixa, que vai ficar com os 107 milhões de clientes do aplicativo Caixa Tem, Guimarães explicou que a unidade ainda precisa de aprovação do BC para ser criada e que a abertura de capital deve ficar para o ano que vem. Ainda assim, admitiu que é preciso ver como estará o cenário, em função das eleições presidenciais de 2022 e outras questões de mercado.
Em relação a uma eventual oferta de ações do Banco do Nordeste (BNB), Guimarães disse que é favorável à operação. A Caixa administra fundos que têm uma fatia na instituição. “Isso é uma discussão do BNB, mas eu sou 100% favorável. A mesma coisa vale para o Basa [Banco da Amazônia]. Acho que essa operação do BNB ajudaria o mercado a avaliar melhor a operação de microcrédito deles, que inclusive poderia ser desmembrada e ter um IPO só dela. Mas isso é só um comentário, eu não faço parte da administração do BNB.”
O presidente da Caixa afirmou também que 268 novas unidades (varejo e agronegócio) deverão ser entregues até março do ano que vem. Segundo ele, desse total,100 serão escritórios de agronegócio e deverão ser finalizados até o fim de 2021.
“Essas unidades de agronegócio podem ser entregues logo, porque são escritórios específicos, com empregados já da Caixa e não têm movimentação de dinheiro em espécie. Além disso, estarão em cidades que já possuem agências do banco”, explicou o executivo, em teleconferência com analistas e jornalistas.
Com relação às agências de varejo, ele comentou que elas dependem da negociação com as prefeituras para migrar folhas de pagamento e fundos para a Caixa, e isso pode levar de seis a nove meses. “Mas devemos ter todas entregues até março de 2022”, disse.
Guimarães mencionou que a Caixa irá contratar 10 mil colaboradores. Serão 4 mil empregados, sendo 1 mil pessoas com deficiência (PCD). A instituição ainda contará com mais 5,2 mil estagiários e 800 recepcionistas e vigilantes.
A Caixa terminou junho com 3.372 agências, exatamente o mesmo número de junho do ano passado. O número de postos de atendimento subiu para 842, de 748. Já o total de colaboradores caiu 2,6% em um ano, para 90.650 (sendo 84.262 empregados e 6.388 estagiários e aprendizes).
Operação de atacado imobiliário gerou inadimplência
Guimarães informou que o aumento da inadimplência, ao passar de 2,04% em março deste ano para 2,46% em junho, foi devido a uma operação específica na área de atacado. “Não posso entrar em detalhes, mas se tirar isso, [a inadimplência] normaliza. Mesmo assim, não foi uma piora relevante. O segundo trimestre teve vários problemas, com o agravamento da pandemia, mas nada fora dos padrões”, disse ele.
Em junho, a inadimplência no segmento habitação passou para 2,55%, de 1,81% em março deste ano e 1,72% alcançados no segundo trimestre de 2020. Apesar do aumento nos calotes, a inadimplência de curto prazo (15 a 90 dias) melhorou. O índice foi de 6,53% em junho, de 6,89% em março e 4,62% em junho do ano passado. A melhora também é observada no indicador específico de habitação, que passou para 8,57%, de 9,04% e 3,99%, respectivamente.
Guimarães destacou o crescimento do crédito no segmento imobiliário, enquanto “a maioria dos bancos segurou” a oferta nessa linha. A contratação total do crédito imobiliário foi de R$ 36,3 bilhões no segundo trimestre, alta de 32,7% ante o primeiro. O destaque foi contratação SBPE, que subiu 98,9% nesta base de comparação, para R$ 21,1 bilhões. Já a contratação por FGTS caiu 9,8%, para R$ 13,2 bilhões.
O saldo total de carteira de habitação, onde estão estes recursos, atingiu R$ 529,5 bilhões, sendo R$ 327,8 bilhões concedidos com recursos Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), aumento de 1,6% contra o primeiro trimestre e de 8,5% em 12 meses. Com recursos do SBPE foram R$ 201,3 bilhões, alta trimestral de 3,1% anual de 10,9%.
O presidente da Caixa afirmou que o banco já enviou ao Tribunal de Contas da União (TCU) um cronograma para o pagamento dos instrumentos híbridos de capital e dívida (IHCD), uma ferramenta usada nos governos do PT para capitalizar os bancos públicos. “Queremos este ano devolver R$ 7 bilhões [em IHCD], ainda dependemos de aprovação do Tesouro”, comentou.
Esse cronograma de devolução dos IHCD foi divulgado pelo Valor em abril. “O IHCD é uma aberração, penaliza os resultados da Caixa, ainda mais agora, porque ele tem um mecanismo que é como se tivesse uma participação nos lucros”, disse Guimarães.
Ele ressaltou que, com lucro recorde no primeiro semestre deste ano e um índice de Basileia de 20,1%, a Caixa tem capital suficiente para fazer essa devolução ao governo.
Questionado sobre quanto a Caixa pretende pagar em dividendos este ano, Guimarães ressaltou que o mínimo legal é 25% do lucro, mas que “a demanda [sobre quanto pagar] vem do Tesouro”.
Sem eventos extraordinários, o banco teria atingido um lucro maior no segundo trimestre, entre R$ 8 bilhões e R$ 9 bilhões, observou Guimarães. A instituição registrou um ganho líquido de R$ 6,260 bilhões entre abril e junho deste ano, uma alta de 36,6% em relação aos três meses anteriores e expansão de 144,7% ante igual período de 2020.
O maior ponto, de acordo com ele, foi a redução da remuneração na prestação de serviços do FGTS, que passou de 1% para 0,47%. ”A redução da taxa de administração do FGTS teve impacto de R$ 750 milhões no segundo trimestre”, disse.
Houve ainda no primeiro semestre um impacto de R$ 193 milhões com revisão de procedimentos contábeis para garantir a rentabilidade mínima exigida ao FGTS.
Ele também destacou despesas elevadas com instrumentos híbridos de capital e dívida (IHCD) ,mesmo com R$ 11,35 bilhões pagos no segundo semestre de 2019. Na primeira metade deste ano, foram R$ 564 milhões. “Contudo, a Caixa consegue ter lucro independentemente do FGTS e de perdas importantes do passado”, afirmou.
Entre os destaques que compensaram essas perdas, houve retorno de R$ 3,271 bilhões com o IPO da sua subsidiária Caixa Seguridade e mais R$ 2,176 bilhões ao se desfazer da fatia que tinha no Banco Pan, que foi vendida para o BTG.
Segundo Guimarães, a Caixa já se desfez de diversos investimentos problemáticos realizados por administrações anteriores e vai encerrar a CaixaPar. “Não faz sentido ter uma empresa de participações. Praticamente todos os investimentos da CaixaPar deram problema. Era uma máquina de prejuízo”. Para o executivo, a Caixa tem de ser o “banco dos pobres”, e não o banco que fica realizando acordos sem transparência na escolha dos sócios.
“Nós tivemos lucro recorde no primeiro semestre. E como conseguimos isso? É fácil, basta não roubar, não destinar centenas de milhões de reais para patrocínio de clube de futebol, não ficar emprestando para empresa grande que não vai pagar”.