O presidente Jair Bolsonaro moderou seu discurso nesta quinta-feira e disse de maneira explícita, na capital do Mato Grosso, que não promoverá uma ruptura institucional, como vinha ameaçando nas últimas semanas. Em duas ocasiões diferentes, no entanto, ele voltou a atacar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), dizendo que alguns membros do Judiciário promovem uma "ditadura branca" no país.
"Da minha parte, não haverá ruptura. Sei das consequências internas e externas de uma ruptura. Mas provocam-nos o tempo todo", disse Bolsonaro em um primeiro discurso em Cuiabá.
Em seguida, ele voltou a queixar-se da prisão de aliados e de decisões que desmonetizam sites bolsonaristas acusados de promover ataques à democracia. "Não é justo prender quem quer que seja sem o devido processo legal. Não é justo o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] agora desmonetizar páginas que falam que o voto impresso é necessário ou que desconfiam do voto eletrônico."
A moderação no discurso do presidente ocorre após o presidente do STF, ministro Luiz Fux, ter cancelado um encontro entre chefes dos três Poderes devido aos ataques de Bolsonaro aos ministros da Corte Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. Na quinta-feira passada, Bolsonaro chegou a evocar mais de uma vez o "poder moderador" das Forças Armadas, expressão usada por radicais bolsonaristas para sugerir um golpe de Estado.
O presidente vem sendo aconselhado por ministros como Ciro Nogueira (Casa Civil) e Flávia Arruda (Secretaria de Governo) a baixar o tom e a não entregar um pedido de impeachment contra Barroso e Moraes, o que prometeu fazer. Na quarta-feira, Nogueira pediu a Fux que remarcasse a reunião dos chefes de Poderes. O presidente do STF disse que o tema "está sob avaliação".
Pesquisas de opinião vêm mostrando uma queda contínua da popularidade de Bolsonaro. Em contraposição, índices de pessoas favoráveis ao impeachment do presidente vem crescendo.
Porém, apesar de não ter ameaçado promover um golpe, repetindo que quer "cumprir a Constituição" e que joga "dentro das quatro linhas da Constituição", ele disse que "alguns pouquíssimos querem jogar fora dela" e que não se pode aceitar "uma ditadura branca" no Brasil. "Não podemos aceitar uma ditadura branca em nosso país com cerceamento das redes sociais."
Em seguida, em um evento com indígenas na capital mato-grossense, Bolsonaro disse que há uma "minoria" que o está "oprimindo", em nova referência ao Judiciário.
"Há valor maior do que a liberdade no momento em que quase toda a população está apavorada pela supressão de liberdade por parte de alguns poucos que habitam ali a Praça dos Três Poderes?", discursou. "Estamos perdendo liberdade, estamos sendo sufocados. E quem está nos oprimindo? É uma minoria. Da onde menos esperávamos controle sobre liberdade, está vindo a mão pesada, ou melhor, uma caneta".
O presidente, que desde o início de seu governo protagonizou diversos atritos com governadores, também se dirigiu a eles num tom mais moderado, pregando entendimento em torno de projetos pelo país.
"O que vai fazer o Brasil melhor? É o meu entendimento com o Mauro [Mendes, governador de Mato Grosso], com o prefeito local, com os governadores. O nosso entendimento vai trazer dias melhores para todos nós", afirmou.