Em busca de acordos com a centro-direita, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou dúvidas sobre a aliança entre o PP do ministro Ciro Nogueira e Jair Bolsonaro e disse que o presidente não terá, nas eleições do ano que vem, a mesma sustentação política que tem no governo. No Piauí, reduto político de Nogueira, Lula afirmou que tem conversado com lideranças do PP e sinalizou que Bolsonaro poderá ser abandonado pelo aliado por conta de alianças locais.
“Não sei por quanto tempo Ciro ficará com Bolsonaro”, afirmou Lula, durante uma entrevista coletiva de imprensa no Piauí. “Não tenho nenhuma certeza e acredito que esse casamento será mais curto do que imaginam”, disse o ex-presidente.
Em um comentário indireto a Bolsonaro, Lula citou as candidaturas de Ulysses Guimarães e de Paulo Maluf para falar que os dois políticos foram abandonados nos Estados por seus aliados políticos. “Um governo e um presidente da República que se comportam como Bolsonaro se comporta não terá a sustentação que pensam que têm durante o processo eleitoral”, disse o petista.
“Eu tenho conversado com o PP. Conversei em Pernambuco, tenho conversado com gente do PP em São Paulo, de outros Estados. Porque o PP não é um partido que tem um centralismo. Ciro tomou uma decisão. Não sei se foi coletiva, mas tomou uma decisão. Bolsonaro apostou, acreditou e vamos ver o que vai conseguir”, afirmou.
O ex-presidente enumerou propostas defendidas por Bolsonaro e recentemente derrotadas na Câmara dos Deputados, como o voto impresso e distritão, e afirmou que isso foi um sinal de que Nogueira “começou não tendo força” no comando da articulação política do governo, na Casa Civil.
“Ciro começou não tendo a força... O Ciro está representando para Bolsonaro o que [Jorge] Borhanusen [representou para o ex-presidente Fernando Collor de Mello]. Foi chamado às pressas pelo Collor para salvar o impeachment e não deu certo”, disse o petista. “Bolsonaro pode escapar do impeachment, mas não escapará do julgamento do povo brasileiro em 2022.”
Presidente nacional do PP, Ciro Nogueira foi aliado de governos petistas e esteve na base de sustentação dos governos Lula e Dilma Rousseff. Em 2017, o atual ministro da Casa Civil falou, em uma entrevista, que tinha “muita restrição” a Bolsonaro por seu “caráter fascista, preconceituoso”. Na ocasião, declarou que apoiava a eleição de Lula em 2018 e disse que o petista “foi o melhor presidente deste país, especialmente para o Piauí e o Nordeste".
Desde domingo, Lula está visitando Estados do Nordeste para costurar alianças para 2022. Antes do Piauí, esteve em Pernambuco na tentativa de aparar arestas com o PSB. O petista ainda passará por Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia até o dia 26.
