Na tentativa de intermediar a crise institucional entre o Palácio do Planalto e o Judiciário, o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou que pediu ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux, para que ele restabeleça o diálogo com o presidente Jair Bolsonaro. Pacheco e Fux encontraram-se nesta quarta-feira (18) e, segundo o senador, ele sugeriu uma nova reunião entre os chefes de Poderes.
O encontro foi cancelado por Fux, após os reiterados ataques de Bolsonaro a ministros da Corte. A interlocutores, o presidente do STF tem apontado que não há clima para voltar a sentar à mesa com o chefe de Executivo. Para ele, uma nova reunião com todos os chefes de Poderes, a exemplo da que foi cancelada, só seria possível se o chefe do Executivo estivesse disposto a um grande gesto – seja um pedido público de desculpas ou o comprometimento com uma trégua de verdade.
"Uma coisa ficou acertada: o diálogo entre os Poderes é um pilar da democracia. Esse diálogo é fundamental, é muito importante que ele aconteça sistematicamente. Fiz o pedido para restabelecer esse diálogo, inclusive com o Poder Executivo", disse Pacheco, em entrevista após a reunião com Fux.
O presidente do STF afirmou que vai "reavaliar" a realização de uma nova reunião entre os chefes de Poderes.
Em sua fala, porém, Fux disse que, mesmo após o episódio, não deixou de conversar com representantes do Executivo. Nesta quarta, ele vai se reunir com o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira.
"Apesar do cancelamento da reunião, o diálogo com os Poderes nunca foi interrompido. Eu sigo dialogando com representantes de todos os Poderes", disse o presidente do Supremo.
O presidente do Senado lembrou do cancelamento da reunião e disse que é "muito importante" que se restabeleça o contato, "sobretudo entre o presidente do Supremo Tribunal Federal e o presidente da República", para que se possa "identificar quais são as dificuldades, quais são os problemas, as razões desses problemas e buscar consenso, buscar convergir".
"Concordamos que o radicalismo e o extremismo são muito ruins para o Brasil e são capazes de derrotar a democracia. Portanto, nós precisamos evitar o radicalismo, evitar o extremismo e darmos lugar ao diálogo que busca conciliar, que busque unir, não necessariamente concordar sempre, mas sobretudo esse respeito a divergência", disse.
Segundo o presidente do Senado, "a democracia não pode ser questionada da forma como vem sendo questionada no país".
Ele também afirmou que não conversou com Fux "especificamente" sobre o pedido de impeachment que Bolsonaro anunciou que apresentaria contra os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.
O senador, no entanto, defendeu que esse instrumento não pode ser banalizado. "Caso haja algum pedido de impeachment, nós vamos fazer uma avaliação. Impeachment é algo grave, não pode ser banalizado." Segundo Pacheco, isso vale tanto para ministros do Supremo quanto para o presidente da República.
"Eu sou contrário à utilização do impeachment como uma solução de problemas", disse.
Por fim, ele afirmou que está "sempre disposto" a conversar com Bolsonaro e que o mais importante, neste momento, é que aconteça um diálogo entre todos os presidentes de Poderes. Ele sugeriu, inclusive, chamar o procurador-geral da República, Augusto Aras, para o encontro.
Questionado se uma reunião seria o suficiente para acabar com a crise, ele respondeu: "Se uma não for suficiente, nós marcamos outra".
O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, reforçou o apelo que já havia sido feito mais cedo por Pacheco e pediu que o Supremo Tribunal Federal retome a interlocução com Bolsonaro.
Em reunião com o presidente do Supremo, no fim da tarde de hoje, Nogueira solicitou que seja remarcada a reunião entre os chefes dos três Poderes.
Após o encontro, o STF divulgou nota afirmando que Fux "reavaliaria" a possibilidade. A Corte disse que a reunião durou cerca de meia hora e que Nogueira "se mostrou aberto ao diálogo com a Suprema Corte".
Em seu perfil no Twitter, Nogueira publicou uma fotografia com o ministro e escreveu que há "consenso" entre eles sobre a preservação dos três Poderes. Na foto, ambos seguram um exemplar da Constituição Federal. O ministro-chefe da Casa Civil disse que o livro sintetiza "o Brasil, o nosso futuro e a harmonia entre os Poderes".