A queda significativa que o Ibovespa acumula nos últimos dias não parece suficiente para trazer de volta os compradores ao mercado local de renda variável. Diante de um cenário ainda muito conturbado em Brasília, com riscos políticos e fiscais latentes, os investidores também encontram hoje um cenário externo menos disposto à tomada de risco, o que vai impondo a terceira perda consecutiva para o principal índice da bolsa brasileira.
Por volta das 13h20, o Ibovespa operava em queda de 0,88%, aos 116.871 pontos, após ter marcado 116.489 pontos na mínima intradiária. Na semana, a queda já é de 3,22%. Em Nova York, os índices rondam a estabilidade, com o S&P 500 operando em queda de 0,11% e o Dow Jones recuando 0,09%.
Ventos contrários à tomada de risco são originados na China, onde novos temores relacionados à desaceleração da economia são refletidos nos preços das commodities. Diante do aumento dos estoques do minério de ferro nos portos chineses e da piora das expectativas quanto à produção de aço no país, o minério com teor de 62% de ferro recuou 4,6% no porto de Qingdao, para US$ 153,39 por tonelada, em sua menor cotação desde 3 de fevereiro.
O fato provoca queda firme nas ações da Vale ON, que recuam 2,62% e, devido ao peso elevado da companhia no Ibovespa, contribui amplamente para a baixa do índice. Entre as siderúrgicas, Usiminas PNA caía 2,68% e CSN ON recuava 1,74%.
Profissionais de mercado também ressaltam que hoje é dia de vencimento de opções sobre o Ibovespa e vencimento de índice futuro, fator que contribui para uma maior volatilidade no pregão. Do ponto de vista da análise técnica, a equipe do Itaú BBA afirma que, após o Ibovespa ter testado o suporte próximo da média móvel de 200 dias, no patamar dos 117 mil pontos, a próxima defesa estará em 114,9 mil pontos.
A chefe de pesquisa de ações do Banco Inter, Gabriela Joubert, afirma que os resultados corporativos das empresas brasileiras superaram as expectativas de consenso no segundo trimestre. No entanto, para ela, tanto o cenário macroeconômico local mais desafiador, com alta da inflação e elevação dos juros, como fatores externos, como a desaceleração da economia chinesa e possível início da retirada de estímulos nos EUA, sugerem um otimismo mais cauteloso para o segundo semestre.
“Esperamos um segundo semestre de demanda ainda bastante elevada e receitas crescentes, mas o X da questão deve ser a pressão de custos. Quanto as companhias vão conseguir repassar a ponto de manter as margens?”, afirma.
O banco Inter, inclusive, está revisando sua meta para o Ibovespa no fim do ano, que, em junho, era de 142 mil pontos. “Do ponto de vista fundamentalista, a bolsa reflete os resultados das empresas. Mas isso não a isenta dos soluços que você pode ter no curto e médio prazo e, no segundo semestre, devemos ter mais desses soluços”, diz.
Após dias seguidos de queda na bolsa, no entanto, alguns investidores começam a monitorar mais de perto o momento de retomar as compras nas ações locais. “Acho que é um bom momento para entrada. Com o Ibovespa em 116 mil pontos, parece um patamar interessante de recompra”, afirma Aldo Filho, analista da Aware Investments.
No mercado externo, os agentes financeiros aguardam a divulgação da ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed), às 15h, que pode trazer mais detalhes sobre os planos da instituição para o início do processo de redução nas compras de ativos (“tapering”).
“O foco das minutas do Fomc estará nas opiniões expressas sobre a redução do QE: como e quando. Em sua coletiva de imprensa, o presidente indicou que a maioria dos membros do Fed é a favor da redução gradual dos títulos do Tesouro e do MBS juntos, em vez de começar apenas com o MBS”, afirmam os estrategistas da TD Securities.