A bolsa brasileira é negociada em queda acelerada desde a abertura e testa a faixa dos 118 mil pontos no pregão de hoje, um dia após encerrar no menor nível desde o início de maio. Os investidores mostram menor apetite pela renda variável, diante das incertezas locais, com a pressão vendedora sendo potencializada pelo cenário externo também mais avesso ao risco.
Às 14h05, o Ibovespa caía 1,94%, aos 116.866 pontos, depois de recuar até os 116.581 pontos, na mínima do dia. O índice à vista ainda não foi negociado em alta hoje.
Operadores das mesas de renda variável chamam a atenção para o fato de a tendência de queda da bolsa brasileira ser acompanhada de volumes crescentes de vendas, o que fortalece o movimento negativo. “Muitos [fundos] multimercados por causa do risco tiveram de diminuir posição, o que prejudicou a bolsa, enquanto para o investidor pessoa física é um momento de cautela”, explica a operadora da B.Side Investimentos Viviane Vieira.
Esse movimento de saída do risco da renda variável é conduzido pelas ações de maior peso no Ibovespa, o que acaba pesando no desempenho da bolsa. No horário acima, Vale ON cedia 2,17%, contaminando também as siderúrgicas. CSN ON caía 3,31%, Usiminas PNA recuava 3,79% e Gerdau PN tinha queda de 2,42%.
Petrobras, por sua vez, alternava altas e baixas, enquanto os bancos passaram a cair com mais força. Petrobras ON subia 0,29%, enquanto Petrobras PN tinha queda de 0,11%. Já Itaú Unibanco PN perdia 1,05%, Bradesco PN recuava 0,74% e Santander Units caía 0,71%.
Levantamento feito pelo Bank of America (BofA) aponta que a disposição dos gestores em direção às ações brasileiras versus outras classes de ativos é a mais baixa desde o início da pesquisa, em março de 2018. Em contrapartida, o banco mostra que a parcela dos gestores que esperam que os títulos apresentem desempenho superior cresceu.
Além disso, 49% dos gestores veem o Ibovespa aos 130 mil pontos ao final deste ano, contra 78% no mês passado. O Latam Fund Manager Survey, divulgado pelo BofA, ouviu um total de 31 profissionais de alocação de recursos, com aproximadamente US$ 90 bilhões em ativos sob gestão.
Para o operador de renda variável da Braúna Investimentos David Har-Zahav a piora do sentimento do investidor em relação ao Ibovespa ocorre em meio aos riscos fiscal e inflacionário no Brasil combinados com ambiente internacional mais desafiador. “É a soma do cenário interno ruim com o exterior aumentando a percepção de risco global”, diz.
Segundo ele, a principal preocupação local vem do cenário político. “Brasília trouxe muitas novidades nas últimas semanas e não há previsão sobre quando essas incertezas serão resolvidas”, afirma o operador da Braúna, citando a PEC dos Precatórios, o novo Bolsa Família e a reforma tributária. “Isso gera um estresse muito grande”, emenda Har-Zahav.
No mesmo horário, em Nova York, os índices Dow Jones e S&P 500 recuavam 0,91% e 0,89%, nesta ordem, digerindo os dados mistos sobre a indústria e o varejo nos Estados Unidos em julho, que vieram acima e abaixo do esperado, respectivamente. As atenções se voltam, agora, para as declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell.
“Será importante ouvir sobre o que ele pensa em relação à manutenção dos estímulos e sobre a recuperação da economia dos EUA”, afirma Viviane. Porém, para ela, os fatores locais pressionam mais. “Essa tendência de queda no curto prazo deve permanecer, com exceção se aliviar o noticiário vindo do governo”, pondera a operadora da B.Side Investimentos.
