A atividade econômica caiu 0,3% no segundo trimestre ante o primeiro trimestre, na leitura do Monitor do PIB, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Para Claudio Considera, economista responsável pelo indicador, o desempenho sinaliza que a economia não está numa rota de recuperação robusta, conforme se imaginava ao término do primeiro trimestre.
Ele lembrou que, nos primeiros três meses do ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou alta de 1,2% no PIB do primeiro trimestre ante quarto trimestre de 2020. Para Considera, o monitor da FGV indica que o setor de serviços, que representa mais de 60% da economia, ainda opera fraco sob impacto da pandemia da covid-19.
O economista acha que o indicador da fundação é um "balde de cautela" no mercado, e abre possibilidade de o PIB do segundo trimestre, a ser anunciado pelo IBGE em setembro, vir com sinal negativo.
Ao detalhar a evolução do Monitor do PIB em junho, anunciado hoje pela fundação, Considera notou que, na comparação com iguais períodos do ano passado, o indicador apresentou taxas positivas. "Mas isso é por uso de base de comparação baixa", observou.
Abril do ano passado é considerado por muitos economistas como o "fundo do poço" da crise na atividade causada pela pandemia – com a economia operando lentamente nos meses posteriores, lembrou ele. No Monitor do PIB da FGV anunciado hoje, a economia brasileira cresceu 10,1% em junho ante junho de 2020, com alta de 12,1% no segundo trimestre ante segundo trimestre do ano passado.
Na comparação com maio, no entanto, o indicador subiu 1,2%. Para o especialista, contudo, esse saldo positivo na margem pode ter sido influenciado por fatores sazonais relacionados à pandemia. Recentemente, restrições de circulação social impostas para prevenir contaminação por covid-19 foram flexibilizadas em diferentes Estados.
Na prática, isso levou a reações positivas na demanda interna, com impacto positivo em diferentes setores da economia. Em junho ante maio, foram registradas pelo Monitor do PIB altas na atividade industrial (0,5%) e em serviços (0,9%), pelo lado da oferta; e pelo lado da demanda, aumentos em consumo das famílias (0,6%); consumo do governo (0,5%) e em Formação Bruta de Capital Fixo (4,4%).
No entanto, ao se analisar o desempenho da economia no segundo trimestre ante primeiro trimestre deste ano, o cenário não é tão favorável, pontuou o técnico. De acordo com ele, nessa comparação, a FGV apurou quedas de 1,9% na atividade industrial; e de 2,2% na FBCF – enquanto que serviços e consumo das famílias operam com saldo positivo, mas próximo de zero, respectivamente com aumentos de 0,7% e de 0,8%, nessa comparação.
"Serviços, que é a maior composição do PIB, ainda está se recuperando lentamente", disse o economista. No entendimento de Considera, houve um entusiasmo muito grande com a rota de recuperação em meio à pandemia, após anúncio de alta de 1,2% no PIB do primeiro trimestre. "Alguns colocaram projeção de alta de 6% para [variação de] PIB de 2021", lembrou.
Em sua avaliação, a economia estaria mais próxima de recuperar a queda de 4,1% em 2020, a uma taxa anual em torno de 5%, ou seja, sem muita "folga", nas palavras do especialista. "A economista está se recuperando, mas não a ritmo tão forte como se imaginava [ao término do primeiro trimestre]", resumiu Considera, não descartando a possibilidade de que o PIB do segundo trimestre registrar taxa negativa ou muito próxima a zero, na comparação com primeiro trimestre de 2021.