16/08/2021 às 19h00min - Atualizada em 16/08/2021 às 19h00min

Dólar fecha no maior patamar desde fim de maio com cautela global

Uma leva de indicadores econômicos piores que o esperado da China e dos Estados Unidos voltou a acender o sinal de alerta em relação ao ritmo de recuperação global. Em meio a questões como o impacto da variante delta da covid-19 e o possível anúncio sobre o início da retirada dos estímulos monetários nos Estados Unidos, os dados fizeram os ativos de risco perderem praticamente em bloco. No Brasil, esse viés se somou às preocupações de cunho fiscal e político que assombram o mercado local e colocou o dólar de volta ao maior patamar de fechamento em quase três meses.

No fim do dia, o dólar foi negociado a R$ 5,2791, alta de 0,65%. Este é o maior patamar de fechamento desde 26 de maio, quando a moeda americana encerrou cotada a R$ 5,3128.

Divulgado nesta madrugada, as leituras abaixo do esperado da produção industrial e de vendas no varejo na China colocou os investidores na defensiva desde o início dos negócios. À exceção do Dow Jones e do S&P 500 em Wall Street, os demais mercados de risco tiveram um dia de perdas, em especial o petróleo, cujos contratos futuros mais negociados tiveram perda superior a 1,50% na sessão.

No mercado de câmbio, a pressão sobre as moedas emergentes chegou a ver algum alívio após a divulgação do índice de atividade industrial do Federal Reserve de NY, que caiu a 18,3 pontos em agosto, de 43,0 em julho. O dado tirou pontualmente força do dólar globalmente ao afastar temores de que o Fed pode agir antes do esperado para tirar os estímulos monetários. Essa “ajuda”, no entanto, acabou não perdurando. No horário de fechamento, o índice DXY da ICE subia 0,11%, aos 92,62 pontos.

Em um momento em que as discussões sobre um possível anúncio da retirada de estímulos pelo Federal Reserve tira atratividade das moedas emergentes em geral, o real parece especialmente vulnerável por causa dos temores sobre o arcabouço fiscal local. Os modelos quantitativos direcionais do Morgan Stanley, por exemplo, passaram a apontar a moeda brasileira, juntamente com o rand sul-africano, como os ativos "preferidos" para apostar na desvalorização.

"O real é agora um dos preferidos para montar posição vendida à medida em que os componentes do mercado de ações e de termos de troca passaram apontar para o negativo. A maior parte da deterioração parece vir da percepção de que uma barbeiragem fiscal permanece um grande risco", escreve o estrategista do banco, Andres Jaime.

Apesar da perspectiva pouco convidativa, o real segue relativamente comportado, na comparação com outros ativos domésticos, como os juros e principalmente a bolsa. Para Cassio Andrade Xavier, gestor de renda fixa da Sicredi Asset, isto ocorre porque, embora as preocupações fiscais e políticas domésticas tenham crescido, a perspectiva de juros mais altos ajudam equilibrar esse vetor, ancorando a moeda brasileira.

"O Brasil foi um dos países que liderou a alta de juros, talvez seja o que está mais avançado nessa normalização, e o mais próximo da taxa neutra", diz. "Nossa visão é de que os juros deveriam estar mais altos já atualmente. No entanto, quando se compara com a situação dos pares emergentes e mesmo com a que a gente tinha no início do ano, hoje a situação está melhor."

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