16/08/2021 às 19h00min - Atualizada em 16/08/2021 às 19h00min

Ibovespa devolve ganhos do ano com incertezas locais e cenário externo negativo

Como vem ocorrendo nas últimas semanas, os agentes do mercado financeiro seguiram relatando desconforto crescente com os ruídos políticos e com as incertezas relacionadas às questões fiscais em Brasília. Em meio a um cenário externo também negativo hoje, o Ibovespa terminou o dia em queda firme e devolveu praticamente a totalidade dos ganhos acumulados em 2021.

O principal índice da bolsa de valores local terminou o pregão em queda de 1,66%, aos 119.180,03 pontos. Nas mínimas do dia, o Ibovespa recuou 2,07%, marcando 118.684 pontos. Assim, o índice acumula ganhos de apenas 0,14% no ano e, desde a máxima de fechamento anotada em junho, já registra queda superior a 9%.

Sinais de cautela já eram emitidos no mercado externo desde o início do dia, motivados por novos indícios de desaceleração na economia chinesa. As perspectivas de menor demanda na segunda maior economia do mundo ficaram refletidas nos preços dos ativos ligados a commodities hoje, levando a uma nova frente de pressão para o Ibovespa.

As ações preferenciais da Petrobras fecharam em queda de 2,42% e as siderúrgicas foram destaques negativos no pregão. As ações da Usiminas PNA recuaram 5,30%, enquanto os papéis PN da Gerdau caíram 3,13% e da CSN ON recuaram 2,72%.

O cenário mais desafiador para commodities levou o Itaú BBA a rebaixar a recomendação dos papéis da CSN e da Usiminas para “em linha com o desempenho de mercado”.

“Embora nossa previsão de preço médio do minério de ferro para 2021 tenha subido um pouco, de US$ 155 a tonelada para US$ 170 a tonelada, vemos um momento desafiador para a commodity, com dados recentes indicando queda na produção de aço na China. Fortes resultados até o fim de 2021 já estão garantidos, mas também parcialmente precificados. Acreditamos que 2022 será outro ano de transição rumo a preços de commodities mais normalizados em 2023”, afirmam os analistas do Itaú BBA.

As questões locais, no entanto, ainda são citadas pelos investidores como os maiores obstáculos para a recuperação das ações brasileiras.

“O mercado cansou e está dando o recado de que o governo, caminhando para essa direção de expansão fiscal, não respeitando o teto de gastos, acabando com a regra de ouro, não vai ter a confiança do mercado, que vai ser conservador e proteger as suas posições”, afirmou o sócio da Golden Investimentos, Thomas Giuberti.

“Pela ótica do preço-lucro, a bolsa está barata. Mas quem vai ser o comprador? Para o investidor de longo prazo, parece um momento de compra. No curto prazo, no entanto, a bolsa requer uma cautela bem maior”, afirma o profissional.

A dinâmica negativa da bolsa, segundo analistas, tem refletido a alta nas taxas de juros longos, o que acaba minando a atratividade dos investimentos em renda variável.

“Se a renda fixa livre de risco hoje te paga por volta de 10%, para você investir em bolsa, deveria buscar um rendimento de cerca de 18%. Imaginar que a bolsa vai trazer um retorno deste nível em um cenário de risco fiscal e eleições é bem otimista, na minha opinião”, afirmou Mauro Orefice, diretor de investimentos da BS2 Asset.

O gestor de um fundo paulista também aponta que perspectivas mais negativas para o crescimento econômico do ano que vem começaram a entrar nos preços dos ativos de renda variável.

Segundo ele, caso essas previsões sejam confirmadas, seria necessária uma contração dos múltiplos da bolsa brasileira. “Se não tem crescimento, ou se ele será menor, então não faz sentido pagar tão caro agora”, explica.

Ele aponta ainda que, dada a perspectiva, as empresas de varejo e tecnologia, que possuem múltiplos já elevados, vêm sendo penalizadas pelos investidores nos últimos dias. Magazine Luiza ON fechou em queda de 4,19%, Via On caiu 6,11%, Totvs ON perdeu 3,42% e Locaweb ON fechou em queda de 4,43%.

“Muitos papeis estão ficando bem atrativos em termos de valuation, mas o medo do mercado é que a bolsa brasileira seja reprecificada, mesmo barata, para um valuation muito menor”, afirma o sócio-fundador da Fatorial Investimentos, Jansen Costa.

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