A aversão global a ativos de risco, disparada após dados de atividade econômica piores do que o esperado da China e dos Estados Unidos, foi a principal responsável por deixar os juros futuros em alta nesta segunda-feira (16).
O conjunto de riscos domésticos que versam sobre a deterioração das contas públicas no radar dos investidores também reforçou a cautela dos agentes financeiros, resultando em elevação das taxas de médio e longo termo em ao menos 10 pontos-base (0,1 ponto percentual) contra o ajuste anterior, na medida em que o mercado aguarda pela reforma do Imposto de Renda (IR), com votação prevista para amanhã, e pela definição sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios.
Finalizado o pregão regular, às 16h, o juro do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 recuou de 6,63% no ajuste anterior para 6,62% e o do DI para janeiro de 2023 permaneceu estável a 8,34%. Já o do contrato para janeiro de 2025 subiu de 9,40% para 9,50% e o do DI para janeiro de 2027 escalou de 9,82% para 9,96%.
Em contratos de prazo ainda mais longo, os juros se mantiveram em dois dígitos neste início da semana. Enquanto a taxa do DI para janeiro de 2029 escalava de 10,09% para 10,37%; a do contrato para janeiro de 2031 saltava de 10,28% para 10,50%. É preciso lembrar, porém, que esses vértices, por serem mais longos, têm menos liquidez, o que pode favorecer alguns exageros em relação a trechos mais curtos e intermediários da curva a termo.
Novamente o mercado de juros se mostrou estressado, com abertura forte de taxas na ponta longa da curva, que ficou mais forte na reta final da sessão regular. Antes, as taxas oscilaram entre margens estreitas, no início de uma semana de poucos indicadores econômicos à frente. O destaque desta segunda-feira ficou, como de costume, com o Boletim Focus, que voltou a mostrar deterioração no cenário de inflação, já que as expectativas para o IPCA de 2022 voltaram a subir, ao passarem de 3,84% para 3,90%, mesmo com a mediana das projeções para a Selic no fim deste ano e do próximo subindo de 7,25% para 7,5%.
Na ponta curta da curva, as taxas registraram queda leve, mas o mercado continua a embutir nos preços uma Selic bastante restritiva no fim do ano, de aproximadamente 8,25%, de acordo com a Renascença. Para o fim do próximo ano, a curva de juros precifica a taxa básica em torno de 9,75%, mas agentes apontam para o elevado nível de prêmio de risco embutido nos preços dos ativos dada a incerteza em torno das contas públicas.
“A incerteza, por vários motivos, que parece estar crescendo, pode alterar os incentivos dos agentes e prejudicar o ambiente econômico”, apontam os economistas do Safra em relatório enviado a clientes. Para eles, a pressão inflacionária e o balanço de riscos levarão o Banco Central a aumentar a Selic para um nível restritivo e a atividade apresentará desempenho modesto no próximo ano. O Safra espera que a Selic encerre este ano em 7,5%. Em um cenário de juros contracionistas, o banco cortou a projeção para o PIB de 2022 de 1,8% para 1,4%.
Para amanhã, é aguardada a votação da reforma do Imposto de Renda. Ao Valor, o ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu a proposta e disse que o impacto deve ser neutro na arrecadação de tributos. Os estrategistas do CIti lembram que a reforma estava prevista para ser votada na semana passada, “mas devido à falta de acordo entre o governo federal e os governos estaduais e municipais, a votação foi adiada”.