Após abrir em alta firme no início do dia, reagindo a dados piores que o esperado da economia da China e preocupações renovadas sobre o impacto da variante delta da covid-19 no mundo, o dólar comercial apagou ganhos e passou a oscilar perto da estabilidade, refletindo outra frustração com um indicador, dessa vez dos Estados Unidos. Este voltou a afastar preocupações a respeito de uma retirada dos estímulos pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano), o que tirou força do dólar.
Pouco antes de 13h45, a moeda americana caía 0,07%, a R$ 5,2416, após testar R$ 5,2972 logo no início dos negócios.
A desaceleração que já dava indícios na China voltou a preocupar após a produção industrial e as vendas no varejo ficarem abaixo do esperado para julho. Além disso, o indicador de novas construções recuou no mês passado pela primeira vez no ano. Uma vez que o país é um dos motores da economia mundial e grande consumidor de commodities, esses dados acabam tendo efeitos sobre a percepção do investidor global em relação ao futuro da recuperação atualmente em curso. Não à toa, os contratos futuros de petróleo e as bolsas em Nova York operam em baixa, ao passo que as bolsas europeias fecharam no vermelho.
Outro dado que contribuiu com essa percepção mais pessimista no dia veio dos EUA, com o índice de atividade industrial do Federal Reserve de Nova York. Para as moedas emergentes, no entanto, o indicador foi positivo porque acabou tirando um pouco da força do dólar, ao afastar temores de que o Fed pode agir antes do esperado para tirar os estímulos monetários.
No Brasil, o mercado de câmbio segue relativamente comportado, na comparação com outros ativos, como os juros e principalmente a bolsa. Para Cassio Andrade Xavier, gestor de renda fixa da Sicredi Asset, isto ocorre porque, embora as preocupações fiscais e políticas domésticas tenham crescido, a perspectiva de juros mais altos ajudam equilibrar esse vetor, ancorando a moeda brasileira.
"O Brasil foi um dos países que liderou a alta de juros, talvez seja o que está mais avançado nessa normalização, e o mais próximo da taxa neutra", diz. "Nossa visão é de que os juros deveriam estar mais altos já atualmente. No entanto, quando se compara com a situação dos pares emergentes e mesmo com a que a gente tinha no início do ano, hoje a situação está melhor."
Em entrevista ao Valor, o ministro da Economia, Paulo Guedes, procurou passar mensagem de compromisso com a responsabilidade fiscal. Ele voltou a afirmar que a PEC dos precatórios não foi feita com intuito de abrir espaço para acomodar o Bolsa Família turbinado que o presidente Jair Bolsonaro quer implementar, mas para disciplinar o gasto com essa rubrica e também evitar um 'shutdown' (interrupção de atividades do governo por falta de verba).
"As palavras de Guedes são positivas, mas isso tem um peso muito pequeno no momento, visto que muita coisa não depende só dele, mas dos parlamentares, do momento político, da popularidade. Acredito que os preços só vão se movimentar de fato quando houver entrega [das medidas propostas]", pondera Xavier.