O Ibovespa cai desde a abertura do pregão desta segunda-feira, passando a testar níveis de pontuação importantes. A aversão aos ativos locais por causa dos ruídos políticos inibe os investidores, que reduzem o apetite por risco no exterior, na esteira de dados fracos sobre a atividade na China, que penalizam as ações brasileiras correlacionadas às commodities.
Perto das 13 horas, o Ibovespa caía 1,84%, aos 118.962 pontos, após mínima em 118.782 pontos, vindo, assim, abaixo do próximo suporte do Ibovespa, situado em 119,4 mil pontos. “O Ibovespa segue em tendência de baixa no curto prazo e tem espaço para seguir em direção aos suportes em 119,4 mil e 117,6 mil pontos - região por onde passa a média móvel de 200 dias (MM200)”, diz, em relatório o Itaú BBA.
Operadores das mesas de renda variável lembram que o índice à vista também é influenciado pela proximidade do vencimento de opções sobre Ibovespa, na quarta-feira. Dados da B3 mostram que a série com maior posição em aberto (descoberto) para as opções de compra é a de 125 mil pontos, ao passo que a maior trava (proteção) entre as opções de venda é a de 120 mil pontos.
Além disso, os profissionais afirmam que as instituições financeiras cujo perfil de clientes são investidores estrangeiros atuam de forma equilibrada nas duas pontas (compradora e vendedora) no pregão de hoje. O volume financeiro somava R$ 10,4 bilhões, projetando giro de R$ 28 bilhões até o fim do dia.
No mesmo horário, em Nova York, os índices Dow Jones e S&P 500 recuavam 0,23% e 0,38%, nesta ordem. Entre as commodities, o barril do petróleo cedia mais de 1% no mercado internacional, digerindo a situação no Afeganistão, onde o Talibã assumiu rapidamente o poder após a retirada das forças armadas dos Estados Unidos do país.
O estrategista sênior global do Rabobank, Michael Every, lembra que especialistas norte-americanos previram que o Talibã não iria estabelecer um “Emirado Islâmico” na região por pelo menos um ano. “Mas erraram e isso aconteceu na noite de domingo”, diz, em relatório. Para ele, tal situação representa um “desastre” na política externa dos EUA, o que eleva os riscos de incidentes geopolíticos na região da Ásia-Pacífico.
Em reação, Petrobras tinha quedas de 2,71% nas ON e 3,03%, nas PN. Vale ON, por sua vez, perdia 0,77%, relegando a alta do minério de ferro cotado na China (Qingdao e Dalian) e refletindo mais os números decepcionantes sobre a indústria e o varejo chinês em julho, que deixaram claro a desaceleração econômica em curso no país, com o surto da variante delta do coronavírus em várias províncias intensificando o ritmo de perda de tração.
Para as analistas Wei Yao e Michelle Lam, do Société Générale, os dados decepcionantes de julho servem de motivo para uma flexibilização adicional na China, não apenas por parte do Banco Central do país (PBoC). “Esperamos agora um corte de 0,10 ponto percentual na taxa de juros de referência, mas isso pode não ser suficiente para estabilizar o crescimento econômico rapidamente’, afirmam, em comentário.
As siderúrgicas eram contaminadas pelos dados chineses: Usiminas PNA recuava 4,63%, CSN ON tinha queda de 3,12% e Gerdau PN cedia 3,58%. Segundo a equipe de pesquisa econômica do Julius Baer, os indicadores econômicos chineses mostraram também a queda mais acentuada na produção de aço em mais de uma década. “Isso pesou sobre a demanda de minério de ferro das siderúrgicas e fez os preços despencarem”, afirma.
Entre os destaques, CVC ON liderava as perdas (-8,40%) e CPFL ON subia 1,97%, reagindo aos resultados financeiros referentes ao segundo trimestre.
Como pano de fundo, os investidores aguardam a ata da reunião do Comitê de Política Monetária do Federal Reserve (Fed, banco central americano), a ser divulgada na quarta-feira, que pode trazer sinais sobre a redução gradual do programa de compra de ativos. “Portanto, ignore Cabul e concentre-se apenas no mercado de alta”, afirma o estrategista do Rabobank. “Afinal, a liquidez lançada nos mercados pelo Fed é suficiente para pagar por um falso exército afegão com armas reais todos os meses e com dinheiro de sobra”, ironiza Every, em relatório.
Internamente, o ambiente em Brasília ainda é incerto, diante da escalada da tensão entre os Poderes Executivo e Judiciário. “O mercado está olhando essa guerra entre [o presidente Jair] Bolsonaro e o STF [Supremo Tribunal Federal], que pode ser crucial para o desempenho da bolsa”, afirma o chefe de renda variável da Renova Invest, Rodrigo Friedrich, citando declarações do presidente durante o fim de semana.
O foco dos investidores está concentrado na pauta do Congresso, que deve votar a reforma do Imposto de Renda, amanhã, e encaminhar uma solução para os precatórios, com medidas que podem ferir o teto dos gastos. “Sem uma visibilidade clara em torno de um endereçamento dessas questões, continuaremos a viver em um ambiente mais negativo”, afirmou, em comentário mais cedo, o diretor de investimentos (CIO) da TAG, Dan Kawa.