Após dias reagindo a uma piora da percepção sobre o cenário político e fiscal doméstico, o mercado de câmbio acabou deixando o tema de lado para se alinhar ao exterior, onde uma leitura abaixo do esperado sobre a confiança do consumidor nos EUA colocou mais distante a possibilidade de retirada dos estímulos pelo Federal Reserve. Seguindo o comportamento visto contra os pares emergentes, o dólar fechou em baixa leve no Brasil e praticamente zerando a alta na semana.
No encerramento dos negócios, a moeda foi cotada a R$ 5,2452, baixa de 0,21%. Com o desempenho de sexta (13) o dólar encerrou a semana com alta modesta, de 0,19%. No mesmo horário, o dólar caía 0,51% contra o peso mexicano, 0,45% ante o rublo russo e 0,38% na comparação com a lira turca.
O dado que deu a direção do dia foi a confiança do consumidor medido pela Universidade de Michigan, que caiu a 70,2 pontos em agosto, contrariando um consenso de 81,3 pontos. O indicador ampliou uma correção do dólar contra pares desenvolvidos que já se via no início do dia, além de elevar a busca por treasuries, o que fez o rendimento desses ativos cair.
No Brasil, o foco segue na política, principalmente após a prisão do presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson. O neobolsonarista, que revelou o esquema do mensalão no primeiro governo do PT, foi preso preventivamente a pedido da Polícia Federal, que investiga suspeita de organização criminosa digital contra a democracia.
Diante de mais um revés para o presidente Jair Bolsonaro, cujo governo tem mostrado dificuldades para fazer avançar pautas de interesse, é até chamativo o "sangue frio" dos participantes de mercado, como expresso no desempenho de alguns dos ativos locais, como o câmbio e a bolsa, nota um experiente profissional. Este interlocutor nota que ainda que fica a expectativa pelo que o final de semana pode trazer em termos de desdobramentos do caso.
A perspectiva de alta mais intensa da Selic fez com que as projeções de câmbio passassem relativamente incólumes à rodada mais recente de revisões de cenário de bancos e consultorias, na comparação com as estimativas de inflação e de PIB. Apesar disso, o tom é de cautela. “Sobre o real, nós reconhecemos que a moeda está barata, mas esperamos que a volatilidade permaneça elevada por causa dos ruídos políticos”, notam estrategistas do Bank of America. “O ativo pode registrar uma nova rodada de valorização por causa do novo tom do Copom, mas nós preferimos ser cautelosos dado os riscos fiscais.”
O risco fiscal também foi tema de comentário do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Em evento da Folha Business, em Vitória, o dirigente voltou a enfatizar o papel da responsabilidade fiscal para a condução das expectativas sobre juros e inflação. "É impossível para qualquer BC no mundo fazer um trabalho de segurar as expectativas com o fiscal descontrolado", disse Campos.
Ele notou que um país com nível de dívida e histórico como o Brasil precisa "passar mensagem de credibilidade" para permitir que a autoridade monetária faça seu trabalho com menor nível de juros e mais eficiência.
(Valor Econômico)