O Ibovespa defendeu a faixa dos 120 mil pontos até o momento e tenta engatar uma recuperação, porém o movimento é frágil. Os ruídos políticos e as incertezas fiscais tornam o risco na renda variável menos atrativo, em um ambiente doméstico de elevação da taxa básica de juros (Selic) por causa da inflação mais persistente. O desconforto do investidor com o cenário local descola a bolsa brasileira do ambiente externo, onde as bolsas de Nova York também não mostram muito vigor.
Por volta das 12h45, o Ibovespa oscilava em baixa de 0,07%, aos 120.622 pontos, depois de cair até os 120.045 pontos, na mínima do dia até então. Na máxima, o índice à vista foi até os 121.251 pontos. Ontem, o Ibovespa perdeu importante suporte, na faixa de 121,5 mil pontos, que vinha sendo testado desde o início do mês, corroborando a tendência de baixa.
Em relatório, o analista do Itaú BBA, Fábio Perina, afirma que o Ibovespa precisa superar a região de 124,3 mil pontos para retomar o movimento de recuperação. “Só a importante região de 126,8 mil pontos é que de fato tiraria o índice à vista dessa tendência de baixa”, diz. No horário acima, o volume financeiro do Ibovespa somava R$ 12 bilhões
A projeção é de que R$ 28 bilhões sejam movimentados até o fim do dia. Porém, profissionais das mesas de operação chamam a atenção para a falta de apetite do investidor estrangeiro pelas ações brasileiras, com presença maior nos mercados de derivativos (dólar futuro e DIs).
“Os ‘gringos’ estão comprando DIs e o local está abrindo posição [em taxa futura]”, comenta um operador sênior de derivativo de uma corretora nacional. Segundo ele, a combinação dos ruídos políticos com as incertezas fiscais e o cenário de Selic mais alta pesam no Ibovespa. “A bolsa pega de tudo um pouco”, diz.
De um modo geral, traz desconforto à renda variável o adiamento da votação da reforma tributária para a semana que vem, o parcelamento dos precatórios para liberar folga no Orçamento de 2022, a criação de um novo programa social e a onda de revisões para o crescimento econômico e para o juro básico. “A Focus vai trazer PIB para baixo e Selic para cima”, completa o operador, referindo-se ao boletim semanal do Banco Central.
Porém, o operador de renda variável da B.Side Investimentos, Lucas Mastromonico, ressalta que mesmo com a taxa Selic mais elevada, a bolsa ainda consegue garantir retorno melhor. Porém, ele reconhece que o ambiente local mais hostil afugenta o investidor. “Tudo isso mexe com o investidor, que pode tanto tirar dinheiro da bolsa e colocar na renda fixa ou sair de um país emergente”, afirma.
Mastromonico reconhece que houve uma piora no clima institucional, após a prisão preventiva do ex-deputado federal Roberto Jefferson, político próximo ao presidente Jair Bolsonaro. “Sempre tem que ficar atento, porque ruído político no Brasil muda totalmente o cenário de uma hora para outra e isso é muito ruim, dá muita instabilidade”, ressalta o operador da B.Side.
Ainda assim, a temporada de balanços agita pontualmente algumas ações. Nos destaques, CPFL (+6,56%) e Embraer ON (+6,14%) lideram as altas, reagindo aos resultados financeiro no segundo trimestre, ao passo que Lojas Americanas PN (-6,09%) e Americanas ON (-6,04%) lideram o ranking negativo, devolvendo os ganhos após a compra do Hortifruti Natural da Terra e reagindo ao prejuízo de R$ 22,8 milhões no segundo trimestre (-69,4%).