A CPFL enxerga uma tendência clara de recuperação firme do consumo de energia elétrica, puxada pela classe industrial, o que sinaliza perspectivas positivas para a retomada da atividade econômica geral, afirmou nesta sexta-feira (13) o presidente da companhia elétrica, Gustavo Estrella.
No segundo trimestre, as quatro concessionárias de distribuição da CPFL renderam um Ebitda de R$ 1,25 bilhão, o dobro em relação ao registrado no segundo trimestre de 2020. As vendas de energia na área de concessão do grupo totalizaram 16.881 gigawatts-hora (GWh), aumento de 12,9% na base anual.
No entanto, Estrella ressaltou que, apesar do cenário positivo para o consumo, a inadimplência na conta de luz tem aumentado e se tornou um ponto de preocupação para os próximos meses. “O nível de hoje certame nos preocupa, é tendência que se verifica no setor de forma geral”, disse, durante teleconferência de resultados.
No segundo trimestre, a provisão para devedores duvidosos (PDD) da CPFL atingiu 1,34% do total da receita de fornecimento, ante 1,28% no segundo trimestre de 2020. Para combater a escalada da inadimplência, a companhia intensificou o volume de cortes, e também tem buscado renegociação de dívidas e parcelamentos.
Durante a teleconferência, o presidente da CPFL Energia avaliou ainda que o preço spot da energia, o “PLD”, deve permanecer em patamares elevados nos próximos meses, tendo em vista o cenário de hidrologia desfavorável para o período. Hoje, o PLD está no teto regulatório de R$ 583,88 por megawatt-hora (MWh).
Estrella reforçou que a companhia continua estudando novas oportunidades de crescimento e avalia participar de leilões que deverão acontecer ainda neste ano. O executivo mencionou a venda do braço de geração da gaúcha CEEE, a privatização dos ativos de transmissão da goiana Celg e o segundo certame de transmissão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Especificamente sobre a CEEE-G, Estrella avaliou como “oportunística” uma eventual compra. “Somos sócios da CEEE em três usinas hidráulicas. A motivação para participar desse processo é olhando para esses três ativos”, explicou. No mês passado, a CPFL elétrica arrematou os negócios de transmissão de energia da estatal gaúcha pelo valor de R$ 2,67 bilhões.
Já sobre o segmento de transmissão, o executivo declarou que há uma linha divisória clara entre a atuação da CPFL e de sua controladora, a chinesa State Grid. De acordo com Estrella, a CPFL está mais voltada a ativos de transmissão de baixa voltagem, que possuem mais interação com a área de distribuição de energia, ao passo que a State Grid está mais focada em negócios de alta voltagem. “Não há, na nossa visão, uma disputa interna entre CPFL e State Grid”.
Ainda segundo Estrella, o pagamento de dividendos complementares anunciado ontem à noite pela CPFL não significa que a companhia está abrindo mão de novas oportunidades de crescimento. “Na nossa análise, tínhamos espaço para fazer o pagamento sem comprometer as oportunidades, uma coisa não invalida a outra”.
Um eventual cenário de racionamento de energia teria que vir acompanhado de uma ampla discussão sobre o impacto dessa medida nos contratos de todo o setor elétrico, avaliou Estrella.
“Qualquer medida ligada a racionamento ou racionalização do consumo de energia tem que ser precedida de discussão sobre como afetaria os contratos de concessão das distribuidoras, e alguma medida tem que ser tomada para evitar impacto negativo”, disse, durante a teleconferência.
O mesmo valeria para os demais segmentos, como geração e transmissão, complementou. “O impacto seria muito grande (...) Em caso de racionamento, a gente não escapa de uma grande discussão, como foi no passado, para rebalancear e reequilibrar o setor de forma geral”.
Estrella destacou, porém, que a CPFL não vê o racionamento como um cenário provável, embora reconheça a gravidade da crise hídrica. Já para 2022, ele disse acreditar que a situação de suprimento energético será mais confortável, dada a expectativa de entrada de cerca de 10 gigawatts (GW) de oferta de energia no sistema elétrico, além de incremento na capacidade de transmissão entre os submercados Sudeste e Nordeste.